A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

268 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica rio, tornando-se, assim, genro do comendador Joaquim Breves. 7 Nem que João Henrique Ulrich, outro integrante dessa elite empresarial do pós1850, tenha sido o principal agente dos Breves nos negócios negreiros em África, dono de barracão armado para o tráfico ao norte de Luanda em novembro de 1840 (Pessoa, 2018b). Segundo os jornais da Corte, Ulrich passara de pajem de Breves, a negociante negreiro na costa de Ambriz, onde teria construído as bases de sua imensa fortuna. Nos anos de 1850, com sua trajetória silenciada, frequentava os círculos fechados da Corte e comandava o aristocráticoCassino Fluminense , causando indignação àqueles que conheciam sua biografia, sem que de fato seu passado nada ilibado impedisse sua nobilitação no Brasil e em Portugal (Pessoa, 2018b). Ou ainda que no Banco Comercial e Agrícola figurassem como principais acionistas, e, por isso, membros da diretoria, “o presidente João Evangelista Teixeira Leite (Barão de Vassouras), e cabeça da família Teixeira Leite, conjuntamente com os suplentes José Frazão de Souza Breves e Antônio Vidal Leite Ribeiro, das famílias Souza Breves e Leite Ribeiro” (Guimarães, 2007, p. 25-26), ambos potentados do Vale do Paraíba. Frazão era ninguém menos que o filho mais velho de Joaquim Breves, sócio do pai na firma Souza Breves & Cia . Assim, a defesa de que a segunda metade do século XIX inaugurou a edificação de uma nova elite, “acima do comércio e do processo produtivo”, uma elite “capitalista” (Fragoso, 2013, p. 157-178), porque essencialmente atrelada aos empréstimos, à liquidez da economia, e desvinculada do escravismo como opção privilegiada de investimento, parece não se adequar à observação focada nos indivíduos e na experiência concreta, somente evidente no processo de redução de escala. Atualmente, em projeto ainda em desenvolvimento, analisamos a hipótese de que algumas das principais fortunas imperiais, constituídas na esteira da expansão do complexo cafeeiro, tenham se projetado articulando aquela dimensão à reabertura do comércio negreiro na clandestinidade, num processo de rearticulação atlântica imposto pelo abolicionismo inglês. Nesse sentido, a saída de cena dos grandes traficantes, que atuavam na praça do Rio de Janeiro entre 1790-1830 (Florentino, 1995; Ferreira, 1996; 2012), cedeu espaço a novos agentes, em parte ainda desconhecidos da historiografia, mas que circulavam na dimensão atlântica como negociantes de escravos, grandes fazendeiros, investidores em ações, 7 Segundo Fragoso, “Além dos já citados nesta seleta faixa de fortuna apareciam senhores como João Martins Cornélio dos Santos, que em 1870 era diretor de uma companhia de seguros chamada de Garantia, além de estar envolvido com o Banco Comercial do Rio de Janeiro, que seria o segundo mais importante da cidade em 1876” (2013, p. 163; 169).

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