A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

262 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica generalização (Ginzburg, 1989, p. 169-178). Assim, analisando experiências singulares, conectando histórias individuais e familiares, em vários contextos em que seus sujeitos tomaram parte, viabilizar-se-ia o acesso à multiplicidade de processos sociais, seus tempos e espaços, na diversidade de relações sociais que se constituem em torno dessas trajetórias e significam existências individuais em seu caráter coletivo. Na passagem ao Terceiro Milênio, por contraste, Jacques Revel relacionou a apologia por uma história global à perspectiva desenvolvida por Fernand Braudel e seus pares da segunda geração dosAnnales . Assim, a despeito da ascensão da microanálise no final dos anos 1970 e sua ressonância avassaladora nas décadas seguintes, “para uma ampla parte da historiografia da segunda metade do século XX, o modelo dominante foi o de uma história dos objetos sociais fundada na série e na medida, quer se trate de fatos econômicos, sociais ou, em último lugar, culturais” (Revel, 2010, p. 435-436). Apesar dos extraordinários avanços promovidos pelo método serial francês, é inegável que se relegou a escanteio o nível individual na História, no mesmo balaio da dinâmica dos eventos, vistos, ambos, como “as brumas das ondas”, no dizer do próprio Braudel (Burke, 1992, p. 3135). Assim, em que pese certa marginalidade ainda hoje persistente, os métodos da Micro-História apresentam avanços irrefutáveis para o ofício do historiador. O maior deles é a ênfase na alternância das escalas e nos efeitos heurísticos resultantes, capazes de revelar dimensões das experiências históricas imperceptíveis em nível macroanalítico e passíveis de generalização. Considerando que os processos históricos se configuram em diferentes níveis e por determinações diversas, “os jogos de escalas”, na expressão certeira de Revel, permitem a emersão de múltiplas dimensões de determinadas realidades, evidenciando-se, igualmente, as descontinuidades das estruturas sociais e seus diferentes níveis de incerteza. Francesca Trivellato reitera as perguntas levantadas, se questionando: há futuro para a Micro-História, em face à virada do final do século em direção à Global History ? A rigor, a historiadora tenta entender como as reflexões dos seus colegas italianos sobre a relação entre micro e macro pode provocar uma boa dose de autocrítica nas práticas e nas certezas das análises globalizantes. Assim, sua ênfase incide, antes, sobre a conciliação da escala micro às perspectivas e problemas macroanalíticos, do que simplesmente em fazer da Micro-História profissão de fé. Para os defensores da análise micro, tal como para Trivellato, a questão passa por recuperar o valor e a importância heurística do empirismo e do nível da experiência em estudos

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