A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

254 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica aproximaria da noção de “ longue durèe ”, de Fernand Braudel. Traria ainda um questionamento importante sobre o contexto histórico, que deixaria de ser entendido como pano de fundo , cenário para os acontecimentos, para se tornar uma agência estruturadora capaz de moldar e limitar o espectro de possibilidades (Tomich, 2011, p. 49-51). Todavia, Tomich adverte: “o resultado da análise micro-histórica não pode ser automaticamente transferido para esferas estruturais mais gerais e vice-versa” (2011, p. 50). É preciso que se pense como o micro engendra o macro, mas também como o macro engendra o micro. Assim, seria possível examinar a “ longue durée ”, o tempo estrutural, através do tempo curto, do local e do particular, abrindo uma grande possibilidade de diálogo com os estudos da segunda escravidão. Para tanto, nos artigos citados, Michael Zeuske e Dale Tomich advertem que os micro-historiadores deveriam evitar: (a) tratar os atores como determinados por aspectos fixos pertencentes à estrutura e (b) pensar os agentes como prioridade de forma isolada das relações que os criam e fazem suas ações possíveis (Tomich; Zeuske, 2008, p. 97). Dessa maneira, caberia à Micro-História não descuidar da longa duração em prol das temporalidades mais singulares que trazem os indivíduos ao proscênio. Uma autoconsciência da redução de escala permitiria contextualizar de perto a agência humana, a diversidade; enquanto o jogo de escalas com outras temporalidades, especialmente a longa duração, poderia dar conta das contingências da ação social, dos limites e possibilidades da agência. Desta forma, haveria uma abertura para o que Tomich e Zeuske chamaram de “micro-história como uma historia mundial feita da perspectiva do indivíduo” (Tomich; Zeuske, 2008, p. 97). Nessa abordagem, Michael Zeuske e Nobert Finzsch estudaram Cuba e o Sul dos Estados Unidos no pós-emancipação, e combinaram a análise dos microssistemas escravistas locais com a investigação das macroestruturas atuantes no processo de transição da escravidão para a liberdade e no pós-emancipação (Zeuske; Finzsch, 2011). Aspectos da Micro- -História foram reivindicados como ferramentas importantes para colocar os escravos no centro da investigação histórica (2010, p. 284) e diferenciar como a escravidão ocorria distintamente dependendo do lugar, do espaço e do contexto ambiental (2010, p. 286). 13 Já o historiador Christopher Sch13 Neste artigo, as diferenças entre Cuba e Estados Unidos eram exacerbadas e permitiam responder questões como: para onde os escravos se destinaram após a abolição? Que status puderam obter naquelas sociedades (incluindo status civil, direito de propriedade e voto)? Que estratégias as classes dominantes foram capazes de utilizar para manter as hierarquias sociais estabelecidas? Como os escravos e seus aliados lutaram contra isso? (Zeuske; Finzch, 2010).

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