A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

252 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica A Micro-História e outros movimentos da chamada virada cultural foram capazes de enfatizar a heterogeneidade das vivências dos vários agentes sociais, ampliar a gama de fontes consultadas, perceber as diferenças culturais, políticas e ideológicas existentes no seio dos próprios grupos/classes sociais, incluir setores marginalizados na pesquisa histórica ( história vista de baixo ), bem como suas estratégias de negociação, conflito e resistência. Todavia, os estudos mais bem-sucedidos foram aqueles que conseguiram traçar nexos entre essas vivências e os sistemas normativos, trazendo reflexões mais amplas sobre a sociedade em questão. Para os micro-historiadores, a chave desses nexos é, sem dúvida, o jogo de escalas. Construindo pontes Nesta parte final do capítulo, cabe retomar a pergunta que originou nossa reflexão: seria a metodologia da Micro-História incompatível com os estudos da segunda escravidão? Sem medo, me arrisco a reafirmar que não, já que o próprio Dale Tomich tem escrito sobre as possibilidades de diálogo, mesmo que as pesquisas nesta direção ainda sejam bastante recentes. Aqui, é importante pensar a historicidade do debate. Pelo prisma da escravidão saiu em inglês, em 2004, reunindo artigos publicados entre 1987 e 1997, sendo a primeira parte, onde se encontram as principais proposições da obra, inclusive o conceito de segunda escravidão, a mais antiga. 10 O livro objetivava: reconstruir teoricamente o desenvolvimento histórico de regimes escravistas particulares, locais, como resultados de processos econômicos mundiais e diferenciar esses regimes uns dos outros por sua posição dentro da totalidade político-econômica. A especificidade dos regimes escravistas particulares contribui simultaneamente para e revela a heterogeneidade espacial e temporal da economia mundial capitalista. Desse modo, a escravidão revela a constante assimetria, desigualdade e tensão entre histórias locais particulares e os diversos, porém unificados, ritmos temporais e tensões espaciais dos processos econômicos mundiais (Tomich, 2011, p. 52). 10 A primeira versão do capítulo A segunda escravidão (capítulo 3), do livro Pelo prisma da escravidão , foi publicada, em 1988, emRethinking the nineteenth century: movements and contradiction, uma coletânea organizada por Francisco O. Ramirez. (Salles, 2013).

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