247 Segunda escravidão e Micro-História: um diálogo possível Luisa Accati e vários outros, que desenvolveram suas reflexões se diferenciando das perspectivas globalizantes da segunda geração dosAnnales (principalmente Fernand Braudel), daNew Economic History (cujos maiores expoentes foram Alfred H. Conrad, Robert Fogel e Stanley Engerman) e da história serial quantitativa e demográfica (com destaque para Louis Henry e Peter Laslett), que enfatizavam os longos processos históricos, a análise quantitativa, os largos espaços geográficos e as variáveis materiais e estruturais como as únicas capazes de explicar as sociedades. 4 A principal crítica apontava que tais abordagens se atinham somente à análise de estruturas e desencarnavam os sujeitos históricos do tratamento dos processos mais gerais. Assim, os micro-historiadores se esforçaram para dar à experiência cotidiana dos atores, grupos e comunidades uma nova significação frente ao jogo das estruturas dominantes. Apesar das ponderações aqui explicitadas, a revista Quaderni Storici destacava temas clássicos da História Social, Econômica e Agrária. Contudo, abria-se às reflexões sobre família e comunidade, às inovações no campo da demografia histórica, aos debates com a Antropologia (cujas maiores influências foram Frederik Barth e Clifford Geertz), à cultura material e à história oral, ainda bastante recente na época. A primeira tentativa de formular uma metodologia comum aos autores que trabalhavam com a Micro-História veio com o artigoO nome e o como: troca desigual e mercado historiográfico , escrito por Ginzburg e Poni, em 1979. 5 Neste momento, para além das diferenças, os autores faziam um esforço a posterioripara unificar as propostas do grupo, enfatizando: o tratamento intensivo e qualitativo das fontes, o desenvolvimento do método nominativo, 6 o destaque para os grupos subalternos, a prioriza4 Jacques Revel nos sinaliza que muito do programa crítico da Micro-História à História Social estava relacionado ao método sociológico proposto pelo durkheimiano François Simiand para as Ciências Sociais e adotado pelosAnnales . Insistia que os historiadores deveriam evitar os estudos do único; do acidental (entendidos como o indivíduo, o acontecimento singular) para priorizar a repetição, as regularidades, estas sim mais viáveis ao conhecimento científico. (1998, p. 17). 5 Henrique Espada Lima (2006) já aponta o artigoMicroanálise e história social , de Eduardo Grendi, publicado em 1977, na revistaQuaderni Storici , como o primeiro a possuir uma proposta metodológica integradora para a Micro-História. Ronaldo Vainfas (2002) ressalta ainda Sinais: raízes de um paradigma indiciário como outro texto importante para a proposição de um método alternativo à história-síntese. 6 Carlo Ginzburg propõe o “método nominativo” como forma de explorar e dialogar com as séries documentais na investigação histórica. O nome seria “o fio de Ariadna que guia o investigador no labirinto documental, é aquilo que distingue um indivíduo de outro em todas as sociedades conhecidas: o nome”. (…) “Este não fecha necessariamente a porta à investigação serial. Serve-se dela. (…) Mas o centro de gravidade do tipo de investigação micronominal encontra-se noutra parte. As linhas que convergem para o nome e que dele partem, compondo
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