246 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica outro, incentivou o trabalho escravo realizado em larga escala em áreas específicas produtoras de gêneros, como forma de aquisição de bens primários baratos, principalmente no Sul dos Estados Unidos, Brasil e Caribe (Tomich, 2011; Tomich; Marquese, 2015; Tomich, 2018). Essas novas zonas de produção escravista seriam, portanto, uma parte importante da expansão material da economia mundial na era do capitalismo industrial. Sua proposição se funda no estudo relacional e global do sistema escravista nas suas especificidades, assimetrias e desigualdades locais, para lançar luz sobre o capitalismo como processo histórico estruturante. Sob o prisma defendido por Tomich, a escravidão nas Américas não seria mera coadjuvante na compreensão da economia mundial, mas sim parte integrante e fundamental do capitalismo (2011). No debate mais amplo, o conceito de segunda escravidão procura responder a uma historiografia que percebe a escravidão como uma instituição necessariamente arcaica (Genovese, 1967; Florentino; Fragoso, 1993), condenada ao desaparecimento na fase do capitalismo industrial por ser incompatível com a modernidade, extemporânea ao progresso industrial, antagônica ao liberalismo e à política moderna. Ao contrário, a segunda escravidão se afirma como dinamizadora do capitalismo, do tráfico atlântico, das novas áreas de alta produção de commodities e de uma nova divisão internacional do trabalho (Tomich; Zeusck, 2008). Como conclusão, as áreas escravistas atlânticas em ascensão não são vistas como arremedos do capitalismo mundial, pois estavam inter-relacionadas, interligadas e participavam ativamente do processo em curso. As trilhas da Micro-História A Micro-História italiana não foi um movimento homogêneo e, portanto, não se constituiu como um corpo unificado de proposições ou uma escola historiográfica (Lima, 2006, 2009; Revel, 1998; Oliveira; Almeida, 2009). Ao contrário, pode ser mais bem definida como uma metodologia, uma prática historiográfica com referências teóricas múltiplas e ecléticas (Levi, 1991, p. 133). Com esta característica, a Micro-História se desenvolveu em articulação com variados debates na revistaQuaderni Storici, a partir dos anos de 1970. Inicialmente dirigida por historiadores com tradição marxista e dos Annales , o periódico promoveu o encontro de pesquisadores italianos de diferentes gerações e tendências teóricas. Seus principais colaboradores foram Carlo Ginzburg, Eduardo Grendi, Giovanni Levi, Carlo Poni,
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