245 Segunda escravidão e Micro-História: um diálogo possível escravistas do Caribe Francês e Inglês não se adaptaram à nova dinâmica e viram sua produção decair. Nesse mesmo momento, outras áreas, antes marginais, da economia atlântica se tornaram centrais na produção de gêneros voltados para a indústria e na conformação de novos hábitos de consumo (Tomich; Marquese, 2015; Tomich, 2018). Assim, o Brasil que tinha sido líder na produção açucareira no século XVI e XVII, expandiu seu cultivo no Nordeste e em localidades do Centro-Sul, mas, gradativamente, aumentou os investimentos no café, impulsionado pela demanda internacional. Cuba, por sua vez, passou um período investindo simultaneamente no açúcar e no café, até que, na década de 1820, concentrou suas forças no açúcar, devido às limitações de terras plantáveis e à competição do café brasileiro. A terceira área que se destacou foi o Sul dos Estados Unidos, com o plantio de algodão em larga escala para alimentar a indústria têxtil dos chamados panos leves na Inglaterra (Kaye, 2009). Assim, fazia-se a transição de uma economia atlântica alicerçada em mercadorias tropicais de consumo de luxo (com mercado consumidor restrito) para o cultivo de gêneros de primeira necessidade numa economia industrial. No novo contexto, as commodities passaram a ser produzidas em quantidades antes nunca vistas na economia atlântica mundial. As novas zonas produtivas - o cinturão algodoeiro do Sul americano, a região açucareira cubana e a zona cafeeira do Vale do Paraíba brasileiro - eram áreas previamente inexploradas, cujas características geográficas, naturais, econômicas e sociais permitiram uma produção em larga escala. De forma complementar e inter-relacionada ao processo de industrialização, mantiveram o uso da mão de obra escravizada já utilizada, contudo sob uma nova e mais intensa dinâmica de exploração dos trabalhadores de suas plantations. Nessas áreas, os meios de transportes, especialmente ferrovias e barcos a vapor, tiveram um grande salto, bem como o maquinário voltado para o beneficiamento de gêneros, e a própria organização e gestão das plantations (Marquese, 2004). Assim, em cada uma dessas zonas, a escala de produção e o tamanho da força de trabalho aumentaram enormemente. As tarefas em grupos predominaram, foram quantificadas e calculadas com o objetivo de maximizar a produção, aumentar o ritmo e os lucros obtidos nas grandes unidades de produção (Tomich, 2016, p. 89; Baptist, 2014). Assim, o conceito de segunda escravidão permite pensar a escravidão como parte integrante do sistema capitalista em ascensão e vice versa. Se por um lado, o capitalismo industrial fomentou a implementação do regime de trabalho assalariado nos polos europeus, por
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