236 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica apreendida por Viotti da Costa para as décadas de 1960 a 1990, as sobredeterminações estruturalistas, e via de regra economicistas, teriam produzido generalizações e, ainda, explicações reducionistas o suficiente para amputar da história seus principais personagens: os homens e as mulheres de carne e osso, que, em suas experiências relacionais, suportam e atualizam as estruturas pelas quais se circunscrevem as possibilidades de ação (Costa, 2014). Para Sartre, a revisão do estruturalismo era uma maneira de recuperar os personagens da história no interior de um marxismo rígido demais para reposicionar o lugar da existência nas sobredeterminações da essência. Viotti da Costa, no mesmo ensaio, consentiu que as então novas abordagens da história se teriam constituído contra os defeitos assinalados por Sartre, embora por veredas que as levaram a outros rumos. A pluralidade tendeu a ganhar pulso contra a generalização, e os reducionismos tenderam a apagar-se perante a singularidade do individual. A inteligibilidade da história perdeu espaço, portanto, para a relatividade do evento contingente, erguido ao primeiro plano das sobre-, e por vezes, indeterminações históricas. Na virada que se opera atualmente, a escala global tende a reinverter a primazia do individual, vislumbrando-o, corretamente, antes como uma passividade do que como uma agência no plano das transformações históricas. Uma espécie, pois, de pré-agência que carece, ajustaria, da conversão do momento prático-inerte em projeto. Essa conversão, e talvez por isso a reinversão da dialética não se complete, revela-se apenas marginalmente em uma história global que presume mais as classes sociais e, não à toa, os espaços que melhor autorizam suas concretizações – isto é, os Estados – do que os alça como locusde interiorização e externalização das contradições que movem a história. Para o que interessa à segunda escravidão – no fundo, a constituição do capitalismo histórico – a tarefa parece ainda mais urgente, porque apenas nas formações capitalistas as contradições inerentes ao modo de produção tendem a coincidir plenamente com as fontes do conflito de classes. Talvez seja esse o principal desafio que deixa a segunda escravidão tanto como conceito, quanto como método. Referências ANIEVAS, Alexander, NISANCIOGLU, Kerem. How the West Came to Rule. The Geopolitical Origins of Capitalism. London: Pluto Press, 2015.
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