A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

235 Benefícios e limites da Segunda Escravidão como método para uma razão dialética uma compreensão da história em sua condição de eterna parcialidade. A ponderação é justa, inclusive a partir do entendimento de Sartre, que, contudo, não arrola a característica fragmentada da história – e da historiografia – como um tolhimento à possibilidade de sua totalização. Isso, porque a história total que propõe Sartre não é a que se alça à universalidade, mas a que se totaliza, por acúmulo de tempo e projeto de transformação, no desenrolar de suas contradições. Não é, precisamente, a justaposição de algumas histórias locaiso que lhe interessa, mas sua relação. Tampouco é o espaço cheio ou descontínuo em um suposto vazio que se presta à uma pretensa continuidade suficientemente boa para servir de pano de fundo – dualidade que, neste debate, guarda proximidade com a distinção entre objeto de observação e unidade de análise –, mas a relação de totalização unicamente autorizada pelo entendimento que agente e estrutura são reciprocamente formados e transformados por contradições entre o tempo acumulado como prático-inerte e o decorrente espaço estreito de ação como projeto. O resultado informa então um proceder historiográfico no qual o objeto se dilata à medida que se transformam as relações que o tinham por inércia e que passam a tê-lo por projeto. Nesse sentido, a possibilidade de totalização está menos, para efeitos práticos, na escravidão considerada nos quadros do sistema-mundo atlântico do que nas contradições que o cativeiro produz entre senhores, bancos e partidos; e, em outro sentido, entre Estados e suas práticas industriais, comerciais e financeiras no sistema-mundo atlântico. Implodir as relações formativas de uma unidade de análise – para manter a distinção –, subsumindo-as pelo prisma do objeto de observação, tende a desautorizar que o próprio objeto histórico se faz outro à medida que é tido em contradição. Em outras palavras, se a escravidão é capitalista, ela o é, porque ela é também o senhor, o banco, o partido e os Estados e suas práticas industriais, comerciais e financeiras – em uma história total, por conseguinte, que é totalizante pela relação contraditória, e não pela justaposição com vistas à universalidade. A relevância da segunda escravidão, da qual me considero um entusiasta, não é diminuída sequer em um décimo com as considerações que precedem. Pelo contrário, é tão somente pela oxigenação que permitiu na historiografia nacional ou internacional sobre a escravidão que me parece ser possível retornar a Emília Viotti da Costa, para insistir – foi também a intenção do texto – no que se pode perder se o conceito de classe permanecer ausente – ou relativamente ausente – do que propomos como interpretações da história. Na inversão

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