233 Benefícios e limites da Segunda Escravidão como método para uma razão dialética interno do externo – aqui no sentido das fronteiras nacionais. Em uma conversão mundo-sistêmica da proposta de Nicos Poulantzas (1971), a história da segunda escravidão tende a revelar-se, implicitamente, na autonomia muito relativa que os Estados têm – não em face a suas próprias forças capitalistas, o que era a preocupação de Poulantzas –, mas sobremaneira em relação ao sistema-mundo capitalista. A consideração sustenta-se, na condição de haver, retomando a Crítica da razão dialética , a resolução do momento prático-inerte – todos os Estados interiorizam os efeitos do sistema-mundo capitalista – pela contradição que engendra o projeto – a readequação do Estado à reprodução expandida do capital é obra não das elites capitalistas forçosamente constituídas na administração pública, mas das externalizações que essas elites assentam, em luta, na estrutura formal e institucional do Estado (Poulantzas, 1971). Ainda que seja justo ratificar a expressividade do momento prático-inerte, no conceito de Tomich, pelo lugar periférico que ocuparam as sociedades escravistas no arranjo sistêmico-laboral de então, não por isso é menos relevante a particularização dessa passividade, inclusive para compreender as permanências e as transformações do sistema-mundo, nas fronteiras nacionais. Não se trata somente de considerar a eloquência, suponhamos, das contradições do bloco histórico britânico nas configurações do Atlântico Oitocentista, mas igualmente de realçar quão responsáveis, resguardadas as relações de força na análise das situações nacionais e globais4 , foram os blocos, em novo exemplo, norte-americano e brasileiro na reprodução ou no esgotamento da segunda escravidão. Se o desenvolvimento capitalista conviveu bem em sua desigualdade combinada com a reabilitação do cativeiro, é também porque o escravismo como projeto – nos termos de Sartre – dos blocos históricos suportou e fez o sistema atlântico em dada época e por tempo determinado. Desinverter a dialética: a história total de Jean-Paul Sartre Formulada em um tempo no qual as ciências humanas, e especialmente a antropologia, se afirmavam como disciplinas autônomas da filosofia, a principal crítica à obra de Sartre veio pela mão de Claude Lévi- -Strauss. O antropólogo havia consagrado à obra de Sartre um seminário de quase um ano na Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais (EHESS). O resultado da investigação permeou a redação deO Pensamento Selvageme revelou-se mais explicitamente no último capítulo do livro, História e dialética . Afora a polêmica quanto ao lugar da antropologia na 4 A referência aqui éao caderno 13 de Antonio Gramsci (1978).
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