A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

232 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica ou na recomposição regressiva-progressiva para trilhar seu devir, importam, no tempo, as relações que estruturam o objeto, como prático-inerte, e aquelas que o transformam, como projeto. Permanecendo na distinção de Tomich, o método de Sartre aconselharia, na regressão, desenvolver as contradições do objeto de observação na unidade de análise, com a condição de, no progressivo, desvendar as relações formativas da unidade de análise que se acumulam, então, no objeto de observação. Trata-se de uma questão de temporalidade, porque as contradições do objeto de observação são atualizações, vislumbradas por regressão, daquelas explicitadas, na progressão, na unidade de análise – que, no vai-e-vem, se tornam a seu turno atualizações das novas contradições de um objeto de observação ampliado. Em um casamento rápido com Fernand Braudel (2014), não se estaria distante da possibilidade de distinguir contradições estruturais, conjunturais ou acontecimentais, novamente, desde que enxergadas não por hierarquia ou escala, mas em sua interdependência: as acontecimentais seriam atualizações das conjunturais, por sua vez, atadas às estruturais, que somente se atualizam, a seu turno, por força das duas outras. No concreto, se a segunda escravidão articula, em primeiro plano, escravidão e capitalismo por intermédio de suas dinâmicas coconstitutivas – fornecendo, inclusive, um método para não essencializar o mercantilismo, retornando a Guimarães e a Kelmer Mathias; subsome, no âmbito do sistema-mundo, as direções que os Estados assumem, a partir das contradições de suas respectivas classes dominantes, na própria composição da ordem global. Não se pretende com isso que essas classes – costumeiramente, no século XIX, de genética nacional e comportamento patriótico ou nacionalista – não tenham se comunicado com suas homólogas de outros Estados ou, ainda, sofrido a influência do sistema global no qual também operavam. Antes, busca-se salientar que, se os padrões de expansão e de contração do capitalismo são apenas possíveis porque ele não está localizado em um Estado singular, mas abrigado em um sistema-mundo – é a ponderação de Immanuel Wallerstein (2013) –, são os Estados que dimensionam em suas relações contraditórias as expansões e as contrações do capitalismo. Na obra de Dale Tomich, que não se escoima de sujeitos históricos, classes e Estados tendem a emergir mais na passividade que o sistema-mundo lhes impõem do que na agência que os realiza – e que realiza o sistema-mundo, também. Em certo sentido, produção, consumo e preços globais apresentam-se com maior força explicativa do que bancos, empresas, partidos e gabinetes. O efeito é de implosão do que separa o

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