A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

231 Benefícios e limites da Segunda Escravidão como método para uma razão dialética uma abordagem inteiramente diversa, a unidade de análise, se fosse para manter a distinção, se constituiria à medida que o objeto de observação se desenvolve, no tempo e no espaço, como produto das contradições interiorizadas e externalizadas por aqueles que agem, também, na unidade de análise. Não se trata, nas entrelinhas, de uma percepção que obrigue o historiador a desfazer-se daquilo que forçosamente sabe de antemão – a unidade de análise –, mas de uma forma de aquilatar que as estruturas não são dadas ao objeto – ou ao sujeito que o tem em contradição. Pelo contrário, a dialética sugerida compreende a unidade de análise a partir das relações contraditórias que lhe dão solda, circunstanciando as possibilidades que o momento prático-inerte aventa à realização do projeto. Antes de 1960, quando publicou aCrítica da razão dialética , Sartre havia sugerido, muito influenciado pela fenomenologia, a inseparabilidade dos dualismos que, por conduzir a aporias, limitariam mais do que libertariam as possibilidades de transformação – para o que cá importa – social. Em O Ser e o nada , redigido durante a ocupação de Paris, prescreveu-se a separação do corpo e da alma, do sujeito e do objeto ou do ser e da aparência como abstrações que compeliriam a pensar no estado isolado, o que não existe senão de forma integrada (Sartre, 1943). Por meio de um ajuste possível às formas de compreender a história, o que interessa à dialética não é a estrutura e a agência cindidas pela abstração de um recuo reflexivo – uma espécie de ficção para Sartre –, mas a contradição que as vivifica – no fundo, reciprocamente – na experiência relacional. Daí o lugar pervasivo que ocupa, na Crítica da razão dialética , uma práxis sempre mediada pela unidade irredutível de transformação: o indivíduo constituído em classes. Para compreender de que maneira a práxis constitui, para voltar a Tomich, um objeto de observação que faz, por contradições relacionais que o dilatam temporal e espacialmente, a unidade de análise da qual depende e, portanto, pela qual também é feito, Sartre propõe, tomando-o emprestado de Henri Lefebvre, o método regressivo-progressivo. A fórmula alvitra um duplo movimento que parte, no primeiro momento, do fenômeno descrito – regredindo-o, no tempo e de forma a expressar o prático-inerte, do imediatamente vivido à constituição estrutural do fenômeno – para progredir, em um segundo momento, e vislumbrar o projeto, em direção à inteligibilidade de uma práxis social reconstituída. Não é forçosamente uma questão de escala, embora o método possa sugeri-lo. Tampouco de hierarquia, malgrado o insinue. É sobretudo uma questão de tempo o que preocupa o movimento regressivo-progressivo. Seja na regressão histórica do fenômeno, na progressão em sua direção

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