A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

227 Benefícios e limites da Segunda Escravidão como método para uma razão dialética nâmica contraditória entre sociedades – e, insisto, dentro das sociedades – constituem, para Trotsky, a urdidura ontológico-relacional basilar do processo histórico, e as identidades desiguais das formações históricas inter ou intranacionais, nesse sentido, derivam das maneiras como elas se combinam no tempo e no espaço (Trotsky, 2000; 2008; Rosenberg, 2006; 2013; Anievas; Nisancioglu, 2015). Decorre dessa compreensão, que tolera mal o estabelecimento de uma natureza social atrasada ou avançada, a incompatibilidade lógica de arcaísmo qualquer como projeto, exceto como critério de julgamento de valor, com as formas não essencializadas de produção e de circulação do capital, na ocorrência, do século XVIII. Mas não só. Desiguais, porque combinadas, as relações inter ou intranacionais constituem centros e periferias caracterizados por desequilíbrios na distribuição de poder, na qualificação de Kelmer Mathias, o fim último da política mercantilista. Ocorre que a obtenção de poder – em sua formulação mais abstrata, também ponderável nos sistemas de produção tributário ou capitalista – guardou estreita relação, no século XVIII, com o processo de associação, identificado no texto de Kelmer Mathias, entre a produção e a circulação de capital em escala global. Em célebre passagem do volume III deO Capital , Marx considera que: É o comércio que [...] possibilita que o produto se transfigure em mercadoria, não é a mercadoria produzida que, por seu movimento, faz surgir o comércio. E aqui o capital como tal apresenta-se pela primeira vez no processo de circulação, no qual o dinheiro se transmuta em capital. Na circulação, o produto se desenvolve pela primeira vez como valor de troca: como mercadoria e dinheiro. O capital pode-se formar no processo de circulação e tem necessariamente de se formar nele antes de aprender a controlar seus extremos, as diversas esferas da produção, mediadas pela circulação [...]. Essa autonomização do processo de circulação, na qual as esferas da produção são interligadas por meio de um terceiro elemento, expressa duas coisas. Por um lado, que a circulação ainda não se apoderou da produção, mas relaciona-se com ela como um pressuposto dado. Por outro, que o processo de produção ainda não incorporou a circulação como mera fase dele mesmo. Já na produção capitalista, ocorrem as duas coisas. O processo de produção se baseia inteiramente na circulação, e a circulação é um sim-

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