A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

225 Benefícios e limites da Segunda Escravidão como método para uma razão dialética mos economicistas às sobredeterminações do cultural e da linguagem, tenderia agora a reinverter-se em detrimento da agência individual, que definiu os ritmos da história nacional na década de 1990, e em benefício da escala global, que subdeterminou, mais decididamente nos últimos anos, a parcela da história nacional e internacional que cabe aos indivíduos constituídos em classes dentro de ainda rígidos Estados-nacionais. É o que interessará em um último momento. Os benefícios do conceito: o desenvolvimento desigual e combinado Na Crítica da razão dialética , Jean-Paul Sartre, de maneira semelhante ao procedimento que Karl Marx adotou para compreender a mercadoria no volume I de O Capital , considera a agência uma passividade em primeira instância. Interessa, como ponto de partida, não o efeito que a ação histórica, inclusive quando diminuída à subjetividade individual, possa originar, mas o que a agência, antes, internalizou para poder constituir-se como movimento (Sartre, 1960). Sartre evidencia uma dimensão prático-inerte que circunstancia as possibilidades e as direções da agência, em uma reformulação que, disposta mais simplesmente, guarda imenso paralelo com Marx quando afirma que “os homens fazem sua história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstancias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (Marx, 2011). Sob pena de não se transformar em ação, a internalização de situações externas somente cobra, para Sartre, sentido de agência quando entra em contradição com o próprio ser, dando ensejo à práxis e fazendo da dimensão prático-inerte o momento de luta – ou de externalização da mesma contradição. Na pesquisa ainda em andamento de Carlos Gabriel, e em uma adaptação possível, a inserção dos negociantes ingleses Joseph e Ralph Gulston na cidade do Rio de Janeiro caracterizou-se, na microescala, pela constituição de uma rede de sociabilidades somente autorizada, na macroescala, pelas contradições que Londres e Lisboa acomodaram após a Restauração de 1640 : o Tratado de Paz e Aliança de 1654, o casamento de Catarina de Bragança com Carlos II da Inglaterra, o escudo militar contra as Província Unidas, o Tratado de Methuen de 1703. Embora o faça em outros termos, Guimarães assinala, em sua introdução, a dimensão prático-inerte, que Sartre identifica como condição para a agência.

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