A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

220 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica formas sociais de produção com a compreensão do caráter orgânico da economia mundial. Pois bem, cada uma dessas formas sociais respondia a processos materiais de produção adequados às suas especificidades. Na medida em que as mercadorias originárias eram transacionadas, quer a nível local, quer a nível internacional, ao abrigo das estratégias de cada Estado, podemos, com a devida acuidade, compreender seus modelos de troca e de poder político em diapasão com objetivo último do sistema mercantilista; a saber: precisamente a busca por poder valendo-se, comumente, de aspectos mercantis. Para que bem se entenda, proponho que o estudo das diversas formas sociais de produção favoreça a compreensão da organicidade da economia mundial, caso tenhamos em conta as estratégias de poder consubstanciadas pela visão mercantilista de cada Estado. Até porque essas estratégias influenciavam a adoção dessa ou daquela forma social de produção. Nesses termos, poderíamos estudar as relações sociais de produção escravista africana e indígena da América lusa e da América espanhola, respectivamente, como componentes integrantes do sistema mundial, segundo as artimanhas de cada Estado na perene disputa de poder na Península Ibérica. Outrossim, e recuando até o século XVII, a adoção da servidão, e posterior escravidão negra, na região do Caribe e em parte da América do Norte, estariam em perfeito diapasão com as condições materiais de produção de seus respectivos Estados. Dentro de uma perspectiva espacial e temporal de análise, a implementação dessas diversas formas de produção social auxiliariam no entendimento da organicidade do sistema mundial sob a perspectiva mercantilista. De acordo com o autor, essa abordagem permite explicar “a inter-relação sistêmica e a interdependência dos processos materiais diversos e das formas sociais de produção”, assim como enseja o pesquisador a evitar as dificuldades atinentes ao esforço de unir “entidades separadas”. Para Tomich, “relações de produção específicas afiguram como partes constituintes de um sistema global de trabalho, não como empiricamente distintas, sistemas de trabalho mutualmente excludentes” (Tomich, 2015, p. 50). Tal passagem, creio, corrobora a hipótese de analisar as relações sociais de produção escravista à luz do sistema mercantilista. Referências BLACKBURN, Robin. Por que segunda escravidão? In: MARQUESE, Rafael; SALLES, Ricardo (Org.). Escravidão e capitalismo histórico no século XIX.

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