219 O anacronismo de um atavismo? A propósito da segunda escravidão sob égide mercantilista sistemas escravistas vis-a-vis às nuances do sistema mercantilista de cada Estado moderno. As inferências que se impõem nos conduzem a pensar as relações sociais de produção escravista à luz da natureza das relações de poder, quer a nível macro, quer a nível micro. Entendo que a formação do sistema econômico mundial da época moderna é caudatária da conjugação dessas duas escalas de observação. Assim posto, e conforme avançado, a partir da integração conferida pelo mercantilismo ao sistema econômico mundial, esse pode ser visto, em diapasão com a proposta de Tomich, como um “sistema de relações estruturado e coerente” (Tomich, 2016, p. 65-66). Para o autor, dispensar atenção às especificidades das formas de produção social permite a compreensão da economia mundial não apenas como a soma de suas partes, mas como “relações distintas entre formas sociais particulares e processos materiais de produção integrados entre si através de modelos definitivos de troca e poder político – como uma mudança estruturada e diferenciada ao longo do tempo”. Avançando, Tomich entende que as “formas específicas de produção de mercadorias presumem relações de troca e são constituídas através delas dentro de uma divisão de trabalho distinta”, e que cada uma dessas formas de trabalho está sujeita “à complexidade de múltiplas determinações e mediações” (Tomich, 2015, p. 50). Adaptar o raciocínio anterior ao contexto mercantilista do século XVIII não deixa de ser um exercício desafiador. De todo modo, esta é a tarefa que me impus. Assim sendo, primeiro temos que mapear as diversas formas de produção social das várias partes integrantes da economia mundial. Tais formas englobavam escravidão negra, escravidão indígena, escravidão por dívida, servidão, campesinato, trabalho assalariado, trabalho autônomo (refiro-me a ofícios mecânicos, por exemplo) etc., embora seguramente houvesse outras. Faço uma apóstrofe para ressalvar que, malgrado não seja possível classificar, por exemplo, a Europa Oriental e a Ásia como regiões cujas políticas econômicas possam ser classificadas como mercantilistas, ainda assim os Estados lá inseridos restavam por tomar parte no mesmo, ainda que indiretamente, haja vista a integração econômica mundial da época. 11 Isto posto, volto meus esforços para tentar articular essas 11 Com fito de asseverar minha argumentação, basta observarmos as várias guerras e disputas comerciais perpetradas no Estado da Índia, na África etc. pelas nações europeias no contexto mercantilista precisamente pelo controle de circuitos mercantis, por exemplo. Outro ponto radica no forte impacto que a política monetária chinesa exercia sobre a economia mundial no que toca ao comércio e circulação da prata. Não é demais repisar a importância dobulionismo no debate mercantilista.
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