A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

218 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica políticos etc., cargos esses que lhes viabilizavam influenciar até mesmo a política (mercantilista) dos grandes Estados modernos, talvez seja factível analisar a interdependência e a mútua formação desses elementos não apenas na divisão do trabalho do sistema mundial, mas também na configuração social do trabalho nas sociedades escravistas, ou seja, estudar as relações sociais de produção escravista imersas nas relações de poder reificadas a partir da tríade “terra, trabalho, capital (mercado)”, sem perder de vista que esses elementos são “interdependentes e mutuamente formativos”. No devir do trecho citado, o autor acrescenta que, por intermédio da perspectiva da economia-mundo, a escravidão pode ser percebida “como uma forma específica de produção social que é continuamente feita e refeita através da relação historicamente cambiante entre terra, trabalho e mercado”. O fator humano é precisamente o agente que responderá tanto pela perenidade anteriormente mencionada, como pela mutabilidade histórica de terra, trabalho e mercado. Insisto nesse ponto por compreender que a chave para concatenarmos escravidão e mercantilismo à luz da proposição de Tomich repousa em admitirmos que, dentro da lógica de funcionamento das sociedades pré-capitalistas, a escravidão interagia com uma economia substantiva, ou seja, caudatária da compreensão humana dos fatores terra, trabalho e renda. 10 Por fim, e ainda na passagem em questão, assevera Tomich: além disso, ao conceber complexos determinados de produção escravista como parte de uma singular divisão mundial de trabalho, essa perspectiva nos permite especificar as relações e os processos através dos quais cada um desses processos é formado, bem como diferenciar sistemas escravistas entre si, dentro do conjunto evolutivo das relações que formam a economia-mundo (Tomich, 2016, p. 85). Em consideração ao colocado anteriormente, não poderíamos nos valer do mercantilismo como uma forma de pensarmos as especificidades das relações e dos processos de formação de cada sistema escravista, assim como diferenciá-los entre si, no tempo e no espaço? A discussão levada a cabo previamente acerca do mercantilismo, embora pobre e lacônica, deve ter servido pelo menos para elucidar que o dito variou, no tempo e no espaço, de Estado para Estado. A ilação subsequente consiste em acessarmos as variações temporais e espaciais dos 10 Acerca da noção de economia substantiva, cf. Polanyi (2012), (2000).

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