190 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica ‘em pó ou por cunhar’ é conseguido no Brasil, a um preço mais barato do que o amoedado. Assim, Duarte Sodré (como Pinheiro) lucrava ‘esse enteresse’” (Silva, 1992, p. 144). No entanto, sabe-se hoje em dia que a remessa de ouro estava atrelada a vários fatores (Costa; Rocha; Souza, 2013; Carrara, 2010, p. 217-239), e que, como disse muito bem Rita Martins e Fernando Carlos Cerqueira Lima, “na historiografia brasileira torna-se mais consensual o entendimento de que o Brasil do século XVIII não foi uma economia meramente exportadora, tendo o seu comércio interno dinâmicas multiplicadoras” e “que os particulares não enviavam toda a moeda nacional de ouro recebida para Lisboa, sobretudo, a recebida na Casa da Moeda do Rio de Janeiro” (Lima, 2015, p. 2; 16). Em outra carta, de 1716, Francisco Pinheiro solicitou a Ralph Gulston que vendesse as mercadorias no Rio de Janeiro e que, não tendo consumo, que enviasse as mesmas para Angola. Em nome dele, como também dos sócios, Guilherme Violet e Tempest Milner, era necessário finalizar a conta dessa carregação. Sr. Raphael Gluston Rio Pelas duas naus que desta partiram para esse porto em 25 de fevereiro, escreve a VM.; e agora novamente o faço desejando notas da boa saúde de VM. e que se sirva da que me assistem o que for de seu serviço; serve esta de pedir a VM. que o resto que VM. tem em seu poder da carregação do pataxó N. Sra. do Carmo o que VM. vender quando nessa cidade tenha consumo; ou remetê-lo para Angola ou para onde VM. entender terá saída; e Tempester Milne e Gulherme Violet suponho fazem a VM. o mesmo aviso; porque desejamos dar fim a esta conta (...). 39 Importante constatar que, no período de 1717 até 1720, a correspondência trocada entre os negociantes ingleses e Francisco Pinheiro cessou. Segundo Donovan, isto se deveu ao recrudescimento da Coroa para com os estrangeiros após 1714 (Boxer, 1969b, p. 462), principalmente com relação à autorização das famílias inglesas pelo tratado de 1661 de se fixarem em certas cidades do Império Português. Ralph Gulston passou por infortúnios, fosse por ser protestante, fosse por não se socializar com a comunidade mercantil do Rio de Janeiro, eminentemente católica, nem com a “ nobreza local” que comandava a Câmara Municipal 39 Francisco Pinheiro para Ralph Gulston, 10/03/1716, Carta de Lisboa, NC . v. IV, p. 723.
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