A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

157 Segunda escravidão, espaços econômicos e diversificação regional no Brasil imperial substancial na distribuição regional da população escrava. Às vésperas da Independência, nas províncias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo residiam 35% dos escravos do Brasil. No início da década de 1870, a proporção havia aumentado para 55-57%. 9 A nova configuração geográfica da escravidão brasileira expressava o redirecionamento do tráfico transatlântico para o Sudeste. Provavelmente, se existissem levantamentos censitários confiáveis para a década de 1850, já seria possível visualizar o movimento. Embora seja evidente que a concentração geográfica da escravidão no Sudeste resultou do crescimento econômico da região, a maior parte dos escravos não estava nos cafezais. Francisco Vidal Luna e Herbert Klein afirmam que havia 320 mil trabalhando no setor no início da década de 1870, 21% dos 1,5 milhão de escravos que viviam no Brasil (Luna; Klein, 2010, p. 112). Sua estimativa soma os arrolados como residentes nos municípios cafeeiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, o que é questionável, pois nem todos pertenciam a cafeicultores. Luiz Aranha Corrêa do Lago utilizou uma metodologia baseada nos índices de produtividade e volume exportado para sugerir o emprego direto de 150 mil a 180 mil escravos nas fazendas de café na mesma época, isto é, de 10% a 12% da população total (Corrêa do Lago, 2014, p. 252). Seu método, no entanto, não computa a grande quantidade de escravos pertencentes a cafeicultores que transportavam as sacas de café e se ocupavam em atividades subsidiárias nas próprias fazendas. Os empregados no cultivo não compunham mais de 60% dos escravos de uma fazenda (Luna; Klein, 2010, p. 109). A situação só mudaria com a expansão da malha ferroviária depois da década de 1860 (Marquese, 2013). 10 Independentemente do critério utilizado, se nota que não ocorreu uma concentração setorial da escravidão equivalente à de Cuba e dos Estados Unidos, pelo menos até o início da década de 1870. Na ilha caribenha, quase metade dos escravos trabalhava nos engenhos em 1862. Nos Estados Unidos, 60% a 65% nas unidades algodoeiras (Wright, 2006, p. 84; Fogel; Engerman, 1995, p. 38-43). A comparação da distribuição setorial é cheia de armadilhas, pois a intensidade dos vínculos mercantis das unidades agroexportadoras com fornecedores nacionais e estrangeiros de mantimentos e insumos era 9 Para 1818/19, estimativa do Conselheiro Velloso, reproduzida em Luna; Klein (2010, p. 92; 192-195). O Censo de 1872 computa 57% dos escravos vivendo nas províncias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Na matrícula de 1873 são 55% (Slenes, 1976, p. 57). 10 Roberto Borges Martins estima em 141 mil a quantidade de escravos ocupados no café nas três províncias no início da década de 1870 (Martins, 2018, p. 129-133).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz