A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

150 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica revitalização da economia exportadora no Sudeste e o crescimento populacional da Corte. O motor da economia mineira foi o abastecimento da província do Rio de Janeiro, facilitado pela infraestrutura de transportes e caminhos montada no século XVIII. Os escravos foram essenciais, mesmo com a diminuição de seu peso em um contexto marcado por um acelerado aumento da população livre de cor. Os escravos constituíam quase 50% da população de Minas Gerais em 1786 e um pouco menos de 30% em 1833 (Bergad, 1999, p. 26-43; 90-93). Depois de 1808 houve crescimento absoluto da população escrava, embora os historiadores divirjam na explicação do fenômeno. 4 Os números do tráfico transatlântico acompanharam a nova conjuntura. Entre 1791 e 1830 entraram 1,6 milhões de africanos escravizados no Brasil, quantidade quase duas vezes superior à dos quarenta anos anteriores. Pouco mais de 50% desembarcaram no Centro-Sul (Rio de Janeiro) e o restante na Bahia, Pernambuco, Maranhão e Grão Pará. Assim como em Cuba, a intensidade do tráfico foi brutal nas décadas de 1810 e 1820, com uma média anual de quase 49 mil escravos, incremento expressivo em relação aos 31 mil do período 1791-1810. A redistribuição dos africanos que entravam pelo porto do Rio de Janeiro corrobora a interpretação de que a época foi caracterizada pela diversificação regional da escravidão. Os dados disponíveis são fragmentários, mas apresentam razoável solidez para a segunda metade da década de 1820, quando Minas Gerais recebeu uma quantidade de escravos novos superior à do interior da província do Rio de Janeiro (42% a 34%). Depois seguiam São Paulo (15%) e Rio Grande do Sul (5%). No agro fluminense os municípios cafeeiros ainda não eram os maiores clientes do tráfico transatlântico, posição que cabia à zona açucareira de Campos. 5 4 Laird Bergad nota a crioulização da população escrava mineira e a importância da reprodução natural. O autor alega que Minas Gerais praticamente interrompeu a importação de africanos entre 1790 e 1820, voltou a fazê-lo até 1840, mas diminuiu o ritmo antes mesmo do fim do tráfico transatlântico (Bergad, 1999, p. 142-146). Roberto Borges Martins descarta, baseado em indícios convincentes, a interrupção do tráfico sublinhada por Bergad e defende, com argumentos mais frágeis, que o tráfico transatlântico foi o principal responsável pelo crescimento da população escrava mineira até 1850 (Martins, 2018, p. 541-570). Douglas Libby sugere que somente uma combinação entre reprodução natural e tráfico explica o fenômeno (Libby, 2008). 5 Os dados da redistribuição de escravos novos (africanos recém-chegados via tráfico transatlântico) foram levantados e sistematizados por Fragoso; Ferreira (2001) com base nos passaportes e despachos da Intendência de Polícia do Rio de Janeiro. As proporções mencionadas se referem ao intervalo 1824-1830, o mais consistente da série. Para a importância de Minas Gerais como província compradora cf. também Florentino (1997, p. 38-41). Campos foi o destino de 53% dos africanos desembarcados na Corte e remetidos para o interior da província do Rio de Janeiro, de acordo com Soares (2017, p. 77-79) com base no banco de dados de Fragoso

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