132 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica ativada a partir da década de 1870, montada inicialmente com capitais locais, alcançou na década posterior, aproximadamente, 400 km em trilhos, chegando ou partindo de Campos. Os caminhos de ferro faziam da cidade uma expressiva praça mercantil. Ao ligarem as duas margens do Rio Paraíba do Sul, cumpriam um papel decisivo para produzir mudanças em uma escala potencial da economia do Império do Brasil. Campanhas publicitárias nos jornais locais tentavam seduzir investidores para aportar seus capitais em ações da EFCC, pois se tratava de “investimento tão seguro e até mais vantajoso do que os papéis do governo”, os títulos da dívida pública. Estes papéis eram preferenciais em praças com instituições financeiras ativas ou, como no caso de Campos dos Goytacazes, onde havia, desde 1835, uma Caixa Econômica, em razão da “abundância de capitais”, decorrente da “prosperidade do comércio”. Portanto, esse acúmulo de capitais em papéis do Governo poderia ser direcionado aos investimentos em obras de infraestrutura, como ferrovias, para “cobrir os férteis vales do Paraíba e seus afluentes, até a contígua província de Minas Gerais”. 6 Por que, então, aplicar em apólices da dívida pública, com ganhos de 6% a.a., se as ações da estrada de ferro tinham por compromisso render 7% ao ano? Não seria mais rentável investir em ações da companhia do que colocar capitais a prazo fixo nos bancos locais, a juros idênticos aos que remuneravam os títulos do Governo? A garantia de juros prestada pelo Governo Provincial assegurava o investimento, dando certa tranquilidade aos investidores interessados, pois, da mesma forma que o Governo Central garantia os títulos da dívida pública, a província afiançava as ações lançadas pelas companhias ferroviárias. Se os juros das apólices da dívida pública eram pagos com carência semestral, a EFCC ofereceria a mesma regra para animar seus futuros acionistas. Ao operar com tal garantia, seus sócios fundadores e majoritários percorriam freguesias e fazendas alcançáveis pela ferrovia, no afã de constituir o capital necessário à sua instalação. Chegavam, inclusive, às províncias vizinhas (Pereira, 2014). A diversidade da produção local talvez pudesse ser expressa, em parte, pelos diversos gêneros expostos no Paço Municipal, durante a realização da I Exposição Municipal de Campos dos Goytacazes, entre os dias 07 e 17 de setembro de 1871. A exposição tentava acompanhar, em escala local, a realização de similares nacionais e internacionais, tidos como “vitrines do progresso e da civilização” no século XIX. O evento foi organizado pela Sociedade União Artística Beneficente de Campos e 6 Monitor Campista , 17 jan. de 1865, p. 2 e.3. Acervo Arquivo Público Municipal de Campos dos Goytacazes, doravante APMCG.
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