Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Água, elemento representativo da ecologia integral 93 do consumo e diminui as externalidades negativas sobre os corpos recepto- res, facilitando o gerenciamento. Experiências concretas, no entanto, têm mostrado que o sistema de mercado, ao gerenciar o acesso à água potável, acirrou conflitos sociais, difi- cultando ainda mais o abastecimento das populações de baixo poder aquisi- tivo. Nos seus estudos sobre o Direito Humano à Água, Riva (2016) consta- ta que a política de precificação e valorização econômica da água não produz resultados positivos nem para a sociedade nem para o meio ambiente. Para referida pesquisadora, esse modelo de gestão, ao invés de conservar o recur- so, aqueles que podem pagar os altos preços cobrados pelos serviços ligados à água continuam a desperdiçá-lo, enquanto os mais necessitados enfrentam dificuldades econômicas para acessar a água. Com a adoção desta política, Riva (2016) adverte que os problemas relacionados à poluição e ao uso não sustentável da água não estão sendo solucionados, mas, ao contrário, eles continuam a prejudicar a qualidade e a disponibilidade de água para o consumo pessoal e doméstico. Diante de todas estas considerações a autora conclui: A utilização exclusiva da abordagem econômica deixou de considerar os limites ecológicos impostos pelo ciclo da água, e, também, os limites eco- nômicos impostos pela pobreza e pela desigualdade, não tendo contribuí- do para a conservação e para a democratização do acesso à água. Soma-se a isso outra questão que não pode ser ignorada: a lógica do mercado, no que tange às commodities, pressupõe a substituição do bem econômico em momentos de escassez, o que não se mostra possível no caso da água, bem insubstituível e essencial para a manutenção da vida e do desenvolvi- mento socioeconômico das comunidades (RIVA, 2016, p. 39). Esta conclusão confirma a nossa percepção, reforçando o equívoco de uma compreensão reducionista da água, que não leva em conta as suas in- terfaces com os diversos aspectos da vida e da sociedade. Francisco (LS, 30) também demonstra preocupação com a atual tendência de transformar a água em mercadoria através da privatização. Nesse sentido, o Papa adverte que, ao ser controlada pelas grandes empresas, a água pode se transformar numa das principais fontes de conflitos deste século (LS, 31). Esta percepção segue as intuições de Petrella (2002), quando este indi- ca que os conflitos pelo controle da água se ampliarão nas próximas décadas devido ao crescimento populacional e à intensificação da rivalidade tecno- lógica e financeira entre os poderes mais desenvolvidos que buscam assegu-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz