Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Sandoval Alves Rocha 88 continente mais privilegiado em relação aos recursos hídricos (31,60%). No entanto, ela é também o maior dos continentes e possui a maior concentra- ção de população do planeta. Com isso, a Ásia oferece baixa disponibilidade de água para os seus habitantes. A Oceania, por sua vez, apresenta uma ofer- ta muito menor (5,30%), mas as maiores taxas per capita de água do mundo. Os países com menos problemas de falta de água são os mais desenvolvidos, como os da América do Norte (18%) e Europa (7%). A América do Sul possui 23,10% da água doce do planeta, sendo o continente que tem mais água por m² do que qualquer outro. O Brasil dispõe de 12% de toda a água doce do mundo, mas temos graves proble- mas de falta de água em algumas regiões. Isso mostra que a falta de água não ocorre somente pela escassez física deste elemento, mas principalmente pela escassez econômica, que proporciona a contradição: há água, mas a sua distribuição não é adequadamente realizada para a população. Neste inte- rim, Casarin e Santos (2011) observam que a falta de água, a fome e outros problemas que parecem naturais e sem solução são na verdade gerados pela desigualdade social e pelo desinteresse do governo em resolver a situação. Para estes estudiosos, faz-se necessário considerar os problemas am- bientais ao lado dos problemas sociais e ver como os dois estão completa- mente relacionados. Trata-se de adotar uma visão mais ampla da realidade a fim de chegar a conclusões mais realistas, considerando os múltiplos fatores envolvidos no assunto. Esta postura aponta para a necessidade da utilização de uma abordagem integral das questões sobre a falta ou a abundância da água, assim como para os assuntos que envolvem a sua gestão, tocando em temas como poder, política, conflitos sociais e mercado. A desigualdade social materializada na produção da cidade desigual, impedindo grande parte dos moradores de usufruir de serviços essenciais, sugere, para a compreensão da precariedade dos serviços de água e esgoto, a necessidade de superar as abordagens meramente tecnocêntricas e adotar uma leitura dos condicionamentos sistêmicos, que se referem a fatores e processos sociais, uma vez que estes tendem a influenciar, moldar e até de- terminar as tendências e práticas de consumo da água. Neste sentido, Castro (2013) entende as diferenças no consumo de água entre regiões, cidades ou grupos sociais, a partir de fatores como as desigualdades sociais estruturais, à medida que estes são mais importantes para explicar as assimetrias na abran- gência, qualidade dos serviços e as diferenças nos hábitos de consumo do que as restrições climáticas ou tecnológicas.
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