Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Guillermo Antonio Cardona Grisales 76 “as coisas” como elas são, nos equilíbrios construídos durante milhões de anos. Um grande rio não pode ser tratado como se trata um igarapé. A função de um rio não é só ser corrente de água, é espaço de vida de outros seres, é ser por- tador de sedimentos que enriquecem os solos, é fazer parte dos ciclos das águas e das chuvas. Violentar um grande rio traz consequências para a agricultura e a segurança alimentar das populações. O que pode explicar que para “limpar um terreno” de muitos hectares se faça uma queima que dura várias semanas e acaba com tudo o que existia de vida nesse terreno? Enfim, são muitos os desafios e problemáticas que se devem enfrentar quando se trata da construção social de uma ecologia integral na perspectiva da justiça socioambiental na Amazônia. Faz falta dar conta dos desafios da extensão de uma formação na perspectiva da ecologia integral e de uma comunicação de massas que ajude a fomentar valores comunitários e de cuidado com a casa comum . Para esta mudança fundamental e radical dos modos de vida que pro- cure ciclos mais longos, que sejam sóbrios e cuidem das pessoas, da “natu- reza”, da vida social e dos patrimônios coletivos, faz-se necessária uma outra forma de intervenção humana, como um todo, nos conhecimentos sobre tudo o que existe, nas formas de organizar a vida social, nas tecnologias, nas compreensões do mundo, nas espiritualidades e filosofias de vida e nas compreensões dos tempos e espaços. 5. Conclusões A trajetória deste texto foi um exercício de elaboração de um roteiro na perspectiva da ecologia integral, em busca de uma justiça socioambien- tal, situada nas atuais circunstâncias de disputa da Amazônia. É um roteiro que pode servir para consolidar o diálogo e os processos de formação dos movimentos sociais e dos povos tradicionais, e para continuar o diálogo com professores e pesquisadores universitários e com instâncias do poder público abertos à defesa da Amazônia. Depois deste percurso, pode-se concluir que, em primeiro lugar, é ne- cessária uma filosofia das ciências que se aprofunde na interconectividade entre o que poderia chamar-se a “realidade” de que trata uma ciência com as “realidades” que tratam as outras ciências e do conjunto com o “ser da reali- dade”. E, em segundo lugar, a necessária busca de metodologias que tratem dos modos destas interconectividades.

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