Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Questionamentos aos grandes empreendimentos na Amazônia na perspectiva da Ecologia Integral... 69 pela mineração que despeja muitos resíduos e sedimentos que interferem nas propriedades físico-químicas das águas e despeja resíduos tóxicos com efeito na biota, e, por fim, as barragens de usina hidroelétricas que impedem a migração de espécies de peixes para a reprodução, podendo interferir nos estoques pesqueiros e, consequentemente, afetar diversas espécies, mesmo aquelas que não realizam migrações. Antônio Nobre, em vídeo no Youtube, “Selvagem Ciclo 2019”, fala também que existe um amor incondicional na natureza e que a teoria Gaia é um modelo dos sistemas complexos e que a forma de atuar dos sistemas complexos é a colaboração e não a competição, como tem pensado o capita- lismo seguindo aos darwinistas. À luz destas explicações tem muito sentido aquilo que o papa Francis- co afirma na Laudato Si’ , referindo o Evangelho da Criação e o mistério do universo (LS, 76-83, 84-88): «A palavra do Senhor criou os céus» (...) O universo não apareceu como resultado duma omnipotência arbitrária, duma demonstração de força ou dum desejo de autoafirmação. A criação pertence à ordem do amor. O amor de Deus é a razão fundamental de toda a criação: «Tu amas tudo quanto existe e não detestas nada do que fizeste; pois, se odiasses alguma coisa, não a terias criado» (Sab 11, 24). Então cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo (...) (LS, 77). Ao mesmo tempo, o pensamento judaico-cristão desmitificou a natu- reza. Sem deixar de a admirar pelo seu esplendor e imensidão, já não lhe atribui um carácter divino. Deste modo, ressalta ainda mais o nosso compromisso para com ela (LS, 78). (...) seria errado também pensar que os outros seres vivos devam ser considerados como meros objetos submetidos ao domínio arbitrário do ser humano. Quando se propõe uma visão da natureza unicamente como objeto de lucro e interesse, isso comporta graves consequências também para a sociedade (LS, 82). Deus escreveu um livro estupendo, «cujas letras são representadas pela multidão de criaturas presentes no universo» E justamente afirmaram os bispos do Canadá que nenhuma criatura fica fora desta manifestação de Deus: «Desde os panoramas mais amplos às formas de vida mais frágeis, a natureza é um manancial incessante de encanto e reverência. Trata-se duma contínua revelação do divino». Os bispos do Japão, por sua vez, disseram algo muito sugestivo: «Sentir cada criatura que canta o hino da sua existência é viver jubilosamente no amor de Deus e na esperança» (LS, 85).

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