Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Guillermo Antonio Cardona Grisales 68 a previsões testáveis derivadas de Gaia, que constituem, por sua vez, o conteúdo empírico excedente da teoria, fundamental para o estabele- cimento de sua cientificidade. Isso também indica que é a esta última ideia, e não à tese de uma Terra viva, que se deve atribuir papel central na teoria Gaia. Além disso, é difícil compatibilizar a ideia de que a Ter- ra é viva com a maioria das definições de vida disponíveis, mas, nesse caso, o problema é menos grave, visto que há saídas possíveis (ainda que passíveis de controvérsia), como tentativas de utilizar para esse fim a definição termodinâmica (LOVELOCK,1965; 1995) ou a definição autopoiética de vida (CAPRA, 1996) (TAVARES et al ., 2009, p. 79). O percurso científico de James Lovelock sofreu importantes altera- ções, afastando da ideia de refugiar-se dos influxos do “progresso”, segundo nos reporta Gonçalves (2010), para passar a lutar pela procura de soluções estruturais à crise planetária: O que significava ser verde outrora? Ter um contato mais direto com a natureza, viver em ambientes pouco alterados pela ação humana, desfru- tá-los... Com tal justificativa, James Lovelock mudou-se para uma região remota em uma península a sudoeste da Inglaterra, onde esperava ficar livre de determinados sinais de ‘progresso’. No entanto, mudou bastante o conceito de ‘verde’. A fusão do movimento dos defensores da natureza com o pacifismo, o movimento antinuclear, os críticos do capitalismo e do agronegócio, o receio do envenenamento por pesticidas, da contami- nação por radiações (típicos do homem urbano, que pouco se importa com a natureza), levou o ‘verde’ à sua fase ‘vermelha’, de crítica ao sistema capitalista, à indústria (em geral, sem amparo científico). Nos últimos anos, ocorreu novo câmbio de cor (citado em “A vingança de Gaia”): do ‘verde’ ao ‘azul’, que se alia ao poder econômico, a governos e organi- zações não governamentais, cria lobbies, prega uma verdadeira religião, preocupada só com a espécie humana e favorável às chamadas fontes de energia ‘renováveis’ (GONÇALVES, 2010, p. 64). Esta visão holística da Teoria Gaia ou “programa de pesquisa GAIA” se faz presente em vários trabalhos hoje. Por exemplo, o pesquisador Antônio Donato Nobre, em “O Futuro Climático da Amazônia; Relatório de Avalia- ção Científica”, explica o perigo em que se encontram as funções que cum- pre a Amazônia na regulação do clima continental (NOBRE, 2014, p. 42). Alguns exemplos de interligação nos ecossistemas e a interferência dos grandes projetos na Amazônia são os rios voadores da Amazônia, que são grandemente afetados pelo desmatamento para plantio de grãos e criação de gado; a contaminação dos rios, a exemplo do que acontece no rio Tapajós,

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz