Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Guillermo Antonio Cardona Grisales 62 Francisco e de uma visão sistêmica da realidade que ajude a uma compreen- são das ciências desde a totalidade do ser no planeta Terra e não de uma “transversalidade” construída dentro da fragmentação do saber científico. Numa segunda parte será abordada uma série de interrogantes que colocam a implantação de grandes empreendimentos, especialmente na Amazônia, que tem a ver com limitações nos procedimentos e conteúdo na tomada de decisões políticas, sociais e técnicas, nos estudos feitos por espe- cialistas, no financiamento público da infraestrutura coletiva para favorecer interesses de grupos privados. Isto nos leva a avaliar o modelo de desenvolvimento que, às vezes, o uso das ciências sociais ajuda a justificar e implementar. 1. O paradigma da ecologia integral como desafio e tarefa das ciências e das atividades humanas no contexto da situação de crise socioambiental planetária que vivemos hoje Na compreensão do que é ecologia integral, nós acolhemos a síntese apresentada no Volume 1 desta coletânea, dentro do projeto de pesquisa em curso, pelo professor Sinivaldo Silva Tavares (2020). Segundo este autor, citando Hackel (1866 apud KERBER, 2006, p. 71), a ecologia é a ciência do relacionamento dos organismos com o mundo exterior, nas suas quatro dimensões constitutivas: natural ou ambiental, social, mental ou ecologia profunda e a espiritual-integral (TAVARES, 2020, p. 23-25). Esta compreensão interconectada dos seres constitui um novo para- digma civilizacional proposto pelo papa Francisco na Laudato Si’ . E o pro- fessor Sinivaldo Tavares explica o termo paradigma: Empregamos o termo paradigma aqui, no sentido de um sistema disci- plinado mediante o qual organizamos nossa relação conosco mesmos, com as demais pessoas e com o conjunto da realidade na qual estamos inseridos. Esta tese por nós defendida se desdobra em três proposições que estabelecem entre si uma relação de reciprocidade inclusiva, carac- terizada pela simultaneidade entre mútua recepção e recíproca com- penetração. São elas: a índole mistérica e complexa do real; uma nova epistemologia: reconhecer, compreender e curar; a consciência de que desafios complexos demandam práticas e saberes integrais. (TAVARES, 2016, p. 59-80).
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