Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Produção e constituição de sujeitos ecológicos plurais: experiências com algumas populações... 51 lógica é englobante, não apenas entre sujeitos singulares ou coletivos, mas porque essa relação excede o humano e incorpora a relação mais extensa com aquilo que é inerente ou imanente, inseparável, portanto, de sua própria condição que é corpórea, ou seja, à dimensão da natureza. A história das experiências de construção de autonomias e de alter- natividades foram tecidas em alguns países latino-americanos como saldo de narrativas e ações coletivas que já possuem um acervo significativo de reflexões e de publicações. O encontro com essas diferentes construções pode, assim, constituir-se em um amplo programa de pesquisa, incorporando o que já foi produzido com o que está sendo construído, redefinido pelos pesquisadores e pelos próprios sujeitos coletivos e suas organizações sociais, colaboradores e apoiadores de tais novidades (ESCOBAR, 2014; LEFF, 2014; CUSICAN- QUI, 2016; LECHNER, 2007; QUIJANO, 2010, entre outros). Em relação ao processo de subjetivação (DELEUZE, 2015), aqui identificado como produção e reafirmação de identidades coletivas, trata-se de um mecanismo que articula o individual com o coletivo, pois cada for- mação histórica produz modos diferentes de subjetivação que entram em relação, seja para estabelecer compromissos ou para opor-se às relações de poder e de saber existentes. O processo de subjetivação pode engendrar novos arranjos de re- conhecimento e autoconhecimento dos sujeitos coletivos (ao redefinir iden- tidades étnicas e culturais), de central importância para verificar como esse processo produz incidências sobre a organização sociopolítica das comuni- dades, pelo empoderamento dos atores subalternos e, neste caso, das popu- lações tradicionais e indígenas em questão. Assim, fazem parte dos modos de subjetivação problemas, valores e escolhas vinculadas à questão socioambiental, isto é, aos atuais conflitos no debate moral sobre a vida, a natureza; o saber cuidar e as ameaças da ação humana e do sistema econômico sobre as condições materiais de reprodução da vida no planeta; as práticas do bem viver; a defesa de um consumo res- ponsável e do respeito à diversidade cultural dos povos tradicionais, deten- tores de um saber capaz de dialogar com a natureza, respeitando seus limites e suas potencialidades. Sendo assim, é possível analisar historicamente os modos de sub- jetivação em torno das concepções de natureza, da corporeidade, das for- mas de apropriação e usos feitos pelas sociedades e dos conflitos decorrentes das diferentes leituras e sistemas de práticas produzidos ao longo do tempo histórico.

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