Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Dimas Floriani e Nicolas Floriani 50 3. Algumas precondições para o desenvolvimento de uma consciência ecológica e a busca por autonomias socioambientais A constituição de sujeitos ecológicos, vinculada a projetos de auto- nomia socioambiental, ocorre quando esses sujeitos associam seus sistemas de práticas com o desenvolvimento de uma consciência ética sobre a na- tureza, o saber cuidar e o bem viver. Para tanto, temos buscado identificar esse processo de subjetivação (DELEUZE, 2015) apresentado em outro de nossos escritos (FLORIANI, 2019, p. 96-97) e que envolve questões vincu- ladas ao desenvolvimento de uma consciência ecológica em triplo sentido: 1) Por um lado, uma consciência cognitiva em torno das condi- ções de produção, reprodução da vida e do ambiente socionatural (espaço, território, lugar), no qual os seres humanos desenvolvem suas atividades materiais e simbólicas; essa consciência cognitiva pode ser alcançada por diversos caminhos, mas principalmente pelo acesso ao conhecimento cientí- fico e às demais formas de conhecimento tradicionais, vinculados às práticas culturais milenares ou seculares de muitas culturas (povos nativos, originá- rios, camponeses, pescadores artesanais, coletores e extrativistas de florestas, agricultores agroecológicos etc.); por outro lado, o desenvolvimento de uma consciência moral que contenha valores em torno do saber cuidar, do saber viver e do saber preservar os bens comuns da natureza. 2) Como segundo sentido dessa consciência, um dos primeiros va- lores que se destaca é de que existe um mundo que queremos proteger, pois ao protegê-lo estamos protegendo e assegurando a nossa própria segurança atual e futura, com a garantia de que podemos continuar vivos, usufruindo do mistério e da beleza da vida, juntamente com os demais seres vivos e não vivos que compõem a biosfera. A aposta pela vida contra a destruição é um desafio humano da vida contra a morte, do ser contra o não ser. A consciência moral dessas condi- ções é produzida socialmente, mas não como destino, senão como capaci- dade de entender, perceber e reagir frente aos limites e às potencialidades dos dispositivos tecnológicos e materiais criados pelos seres humanos, em estreita vinculação com a natureza. Vale então a máxima socrática: o que temos que fazer com nossa vida aqui e agora ou de que uma vida sem exame não merece ser vivida. 3) Como terceiro sentido ou direção dessa consciência ecológica, é o que se refere a seu aspecto relacional ou à alteridade; essa consciência eco-
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