Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Produção e constituição de sujeitos ecológicos plurais: experiências com algumas populações... 49 da quanto aos riscos representados pelas indústrias extrativas – mesmo porque muitas das comunidades presentes sentem na pele os prejuízos da exploração de gás, petróleo e carvão. (...)Desenhada para dar visibilidade às lutas e soluções das populações, a Cúpula recebeu aproximadamente 350 mil participantes de todas as partes do planeta. A diversidade era imensa: indígenas, quilombolas, afetados por usinas hidrelétricas e nucleares, por empreendimentos in- dustriais ligados ao agronegócio, militantes feministas, pró mobilidade urbana, ecossocialistas, cientistas compunham parte do público atraído pela programação variada, que acolheu 800 atividades autogestionadas propostas por centenas de entidades. 9 O domínio discursivo ou argumentativo da capacidade enunciativa dos atores, sejam dos hegemônicos ou subalternos, se processa pelas articu- lações internas dos textos (a gramática dos conceitos); pela hierarquização e organização temática, com as lógicas conceituais e argumentativas; pelo imaginário (sistemas ideativos e valorativos sobre o que cada um dos lados pretende como ideal de sociedade e quais os problemas que devem ser iden- tificados e visados); e, por fim, como se dá o processo de contraposição ou de contestação argumentativa, neste caso, por parte da Cúpula dos Povos em relação ao documento NOSSO FUTURO COMUM da ONU que representa a visão hegemônica das instituições estatais e de outras agências internacionais corporativas ( retóricas hegemônicas ). Como estavam em jogo as disputas do significado de sustentabilida- de para ambos os discursos contrapostos, grosso modo pudemos identificar profundas e até antagônicas diferenças entre ambos enunciados: por um lado, a apropriação da sustentabilidade por parte do discurso oficial hege- mônico não abria mão do crescimento econômico, atribuindo ao mercado os mecanismos de autorregulação das externalidades perversas ou pelo poder de judicialização dos Estados, enquanto que a retórica da contestação ques- tionava essa racionalidade instrumental exercida sobre a natureza, denun- ciando as injustiças ambientais derivadas dessa racionalidade e reivindican- do autonomia para os atores subalternos (FLORIANI, 2016). 9 O Grupo de Articulação (GA) Internacional do Comitê Facilitador para a Sociedade Civil na Rio+20 (CFSC) da Cúpula dos Povos é formado por 35 redes, organizações e movimentos sociais de 13 diferentes países. Seus representantes trabalham junto ao GA Nacional (com 40 redes representadas) na coordenação metodológica e política da Cúpula dos Povos (ONU, 2012, p. 37).

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