Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Dimas Floriani e Nicolas Floriani 48 uma retórica da contestação , expressão daquilo que consideramos aqui como capacidade enunciativa dos subalternos e condição necessária para reunir von- tades e intenções políticas desses grupos, tornando-os visíveis e atuantes na esfera pública para exercerem sua condição de sujeitos ecológicos. Como representantes dessas organizações sociais populares e na condição de seus porta-vozes ou intercessores no grande evento mundial da Cúpula dos Povos, convertem-se em uma espécie de vanguarda desse cole- tivo; isto não significa que suas bases estivessem presentes no evento, geral- mente formadas por pessoas comuns que têm suas rotinas diárias, no esforço também de sobreviver de maneira simples e, em muitos casos, de forma sofrida. Contudo, suas posições discursivas são apresentadas de maneira ra- dical e militante, cuja doutrina ou discurso crítico depende de motivações e engajamentos político-ideológicos com a causa, mais do que um discurso que perpassa o dia a dia das pessoas comuns desses movimentos. No contexto do grande evento internacional da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, RIO+20 e da cúpula dos povos por jus- tiça social e ambiental, ocorridos simultaneamente em junho de 2012 na cidade do Rio de Janeiro, confrontaram-se dois tipos de formulações dis- cursivas, aqui referidas como exemplo de ilustração sobre a importância da capacidade enunciativa dos sujeitos ecológicos enquanto sujeitos de ação política. Por um lado, uma discursividade que se inscreve nas grandes estra- tégias políticas e geopolíticas globais dos Estados-Nação, dos agentes eco- nômicos e políticos multissetoriais e transnacionais, cujo eixo articulador é o sistema de mercado, com suas lógicas financeiras e mercantis, com os desafios do crescimento econômico, impregnado agora pela semântica da sustentabilidade e da economia verde. Desde outra perspectiva oposta, a produção de uma retórica da contes- tação, enunciada por atores, saberes e visões de mundo fundamentalmente contrapostas às matrizes de pensamento e de ação da Conferência da ONU. Esta ordem discursiva reivindica para si a condição de representante da Cú- pula dos Povos. As circunstâncias do evento, com alguns de seus cenários, foram assim descritas pela Revista Poli (2012, p. 4): Enquanto no Riocentro (193) delegações do mundo todo se digladia- vam em torno de pautas como o fim do lobby para a produção de com- bustíveis fósseis (rejeitada), no Aterro do Flamengo, onde se realizou a Cúpula dos Povos a partir do dia 15, ninguém parecia ter a menor dúvi-
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