Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Produção e constituição de sujeitos ecológicos plurais: experiências com algumas populações... 47 2. Capacidades enunciativas e de práticas políticas autônomas e diferenciadas 8 De início, pretende-se fazer uma rápida distinção entre as noções de atores não integrados e grupos ou categorias sociais subalternas , a fim de di- ferenciar a existência de atores que estabelecem relações próximas com as atividades ambientalistas, como é o caso dos apoiadores das lutas ecológicas, reunidos geralmente em ONGs, mas que possuem uma origem social dife- rente da categoria dos atores sociais subalternos. No caso desses apoiadores, prefere-se o termo de atores não inte- grados ou críticos do sistema dominante para diferenciá-los dos atores subal- ternos , uma vez que a diversidade desses coletivos, presentes nos encontros oficiais dos estados nacionais e das agências internacionais, nem sempre equivalem à subalternidade como conceito político, embora busquem re- presentar ou falar, na maioria das situações, em nome dos subalternos. Por sua vez, consideramos subalternos os grupos e categorias sociais que pertencem historicamente a um sistema de subtração ou de destituição de sua condição original, por meio de alguns mecanismos de poder e de exclusão, tais como a expropriação dos territórios, a privação da liberdade, a integração forçada ao Estado Nacional, como é o caso das populações indí- genas, das demais populações tradicionais, dos sem-terra, dos sem-teto, dos subempregados urbanos e dos afrodescendentes. Para ilustrarmos a ocorrência da constituição e dos usos das capaci- dades enunciativas dos atores que se opõem ao sistema dominante, quando se trata de confrontar visões e práticas em relação ao meio ambiente, toma- mos o caso emblemático da realização histórica da Cúpula dos Povos no Rio de Janeiro em 2012. Embora muitas das populações consideradas aqui como subalternas estivessem representadas na Cúpula dos Povos do Rio+20, encontravam-se presentes ONGs nacionais e internacionais profissionalizadas, representan- tes de alguns partidos políticos, sindicatos de trabalhadores, servidores pú- blicos, pesquisadores, intelectuais, militantes ambientalistas, estudantes etc. A Cúpula dos Povos reivindicava seu papel de opositor às propostas do discurso oficial do documento NOSSO FUTURO COMUM. Daí que, do ponto de vista da produção discursiva, é adequado considerar que o docu- mento da Cúpula dos Povos constitui-se e apresenta-se como formulador de 8 A abordagem desta seção remete-se a outro trabalho nosso e que foi publicado em livro (FLO- RIANI, 2016).

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