Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Dimas Floriani e Nicolas Floriani 46 e do saber, muito além do espaço consagrado como tal pela academia. Pro- blematizam as ontologias dualistas modernas e se abrem às ontologias rela- cionais que, como a terra mesma, caracterizam os mundos de muitos povos com apego ao lugar e ao território. Esses estudos aplicam-se não só a con- textos rurais e a grupos étnicos, mas igualmente aos mundos urbanos. Neste sentido, os estudos do pluriverso terão que lavrar seus próprios caminhos, além da academia, com os sonhos da terra, dos povos e dos movimentos que insistem em imaginar e tecer outros mundos. Naquilo que nos concerne, a designação que adotamos como “eco- logia das práticas” não poderia deixar de referir-se ao processo de construção do conhecimento científico e de outros saberes culturalmente legitimados, tais como os etnoconhecimentos, porém com uma importante diferença, qual seja: por um lado, como pode ocorrer a coexistência de ambos saberes, em que condições isso se dá e a que tipos de geração de confrontos, conflitos e assimilações decorrem desses encontros; por outro lado, não se trata ape- nas de mecanismos cognitivos ou culturais, mas de ocorrências políticas no espaço público, uma vez que mobilizam o “grande público”, além das possí- veis validações ou impugnações por parte do Direito e dos demais controles de outros Aparelhos Ideológicos do Estado. Por fim, uma ecologia das práticas implica no agenciamento de ações por parte dos atores envolvidos, com implicações diversas para o rea- linhamento e autorreconhecimento desses atores na arena política, muito além do que simplesmente circunscritos aos territórios corporativos dos chamados praticantes da ciência e dos etnoconhecimentos. Neste sentido, é necessário estar atento(a)s às situações concretas dessas ocorrências, não existindo respostas ou consequências únicas e universais para elas. Dessa maneira, não separamos o modo de conhecer com o modo de atuar, seja do ponto de vista hegemônico como do contra-hegemônico, isto é, se é problemático pensar o mundo desde uma única forma de conhe- cer, por outro lado a aproximação entre diversas e diferentes epistemes revela as dimensões incompletas do saber sobre e do fazer no mundo, ou como nos reporta Boaventura de Sousa Santos (2010, p. 58): “Todos os conhecimentos sustentam práticas e constituem sujeitos. To- dos os conhecimentos são testemunhais porque o que conhecem sobre o real (a sua dimensão ativa) se reflete sempre no que dão a conhecer sobre o sujeito do conhecimento (a sua dimensão subjetiva)”.

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