Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Produção e constituição de sujeitos ecológicos plurais: experiências com algumas populações... 45 Em alguns de seus escritos e entrevistas, Stengers (1997, 2005) 7 tra- ta da ecologia das práticas no contexto da produção de fatos e artefatos científicos, ponderando criticamente os usos de uma racionalidade científica autossuficiente e capaz de submeter e julgar a toda a “economia do conheci- mento” (termo usado pela própria autora). Neste sentido, o termo “ecologia das práticas” aproxima-se bastante ao correlato de “ecologia dos saberes” de Boaventura de Sousa Santos, am- bas distantes da visão de Arturo Escobar (2014), uma vez que o foco deste último autor é sobre situações de vida em contextos em que as lógicas comu- nitárias tornam complexa a noção mais precisa de cultura como estrutura simbólica, ou seja, entendendo a cultura como “diferença radical” emergen- te, quer dizer, muito diferente do contexto europeu. Dessa maneira, a pers- pectiva cultural está centrada no comunal como política de relacionalidade. Para a reconstituição dessas dimensões, segundo Escobar, os po- vos indígenas e afrodescendentes da América Latina estão acionando po- líticas de relacionalidade, por meio de dois grandes processos: 1) a proble- matização das identidades “nacionais” , com o concomitante surgimento de conhecimentos e identidades indígenas, afrodescendentes e camponesas; e 2) a problematização da vida , em relação à crise da biodiversidade, à mudança climática e ao aumento da destruição ambiental pelas indústrias extrativistas. Escobar propõe ainda a elaboração de estudos do pluriverso como alternativas viáveis ao discurso e práticas do mundo único para aqueles uni-mundistas modernos, cansados já de suas narrativas universalistas vazias, buscando assim entender os múltiplos projetos baseados em ou- tros compromissos ontológicos e formas de mundificar a vida e as muitas maneiras de como essas lutas podem debilitar o projeto de um mundo único e, ao mesmo tempo, contribuem para ampliar seus espaços de r(e) xistência. Os estudos do pluriverso são necessariamente inter-epistêmicos: partem da premissa de que existem muitas configurações do conhecimento 7 “O que busca fazer existir a ecologia das práticas como possível – praticantes que aprendem a se apresentar desde o que os obrigam para tal – não oferece certamente nenhuma das garantias que reivindicam aqueles que afirmam ser necessário usar juízos valorativos e que é necessária uma definição de interesse geral em relação ao qual todos – isto é cada um(a) – devem submissão. O que importa não é o direito de exclusão, mas sim uma capacidade de “inclusão” e que exige uma cultura ao mesmo tempo de atenção e de insubmissão” (STENGERS, 2006, p. 173-174). Tradução livre.

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