Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Dimas Floriani e Nicolas Floriani 40 períodos, por isso é necessário identificar a origem desse debate, em escala internacional. Assim, interessa-nos resgatar alguns dos principais momentos em que emerge o período da crise socioambiental, inaugurada nos anos 1970 com a primeira grande conferência internacional realizada na Suécia (1972), intitulada o Homem e a Biosfera e posteriormente ampliada e aprofundada por diversas outras conferências, declarações e tratados internacionais 3 . Neste capítulo, pretendemos trazer três dimensões sobre a consti- tuição dos sujeitos ecológicos 4 : 1) sua localização em espaços que designa- mos como “territórios da diferença” e que remetem a contextos de confron- to com os demais atores sociais, principalmente aos hegemônicos (Estado, agentes econômicos de mercado, sistema das tecnociências, sistema cultural associado à racionalidade dos estilos de vida de consumo); 2) seus sistemas de práticas associados à gestão dos territórios, aos tipos de relação com a natureza e aos seus usos, com cuidados ecológicos de preservação e de re- produção das condições materiais de vida, de acordo com os princípios do socioambientalismo crítico; 3) suas experiências de vida e de associativismo voltadas a projetos de construção de autonomias socioambientais. Dessa maneira, delineamos, nas próximas seções, alguns dos elemen- tos teóricos, metodológicos, bem como o balanço de alguns dos resultados das experiências desenvolvidas pelos sujeitos ecológicos, com o propósito de desenhar alguns dos principais fundamentos epistemológicos capazes de agregar ao coletivo que pretende inserir-se no movimento mais amplo de constituição do campo da Ecologia Integral. Ao apresentarmos a crise socioambiental como crise civilizacional, é necessário destacar, uma vez mais, que essa se processa pela estrutura e di- nâmica sistêmica do modelo de produção, de consumo e pelos mecanismos 3 Além da Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente (1972), destacam-se importantes Declarações e Tratados que envolvem a questão socioambiental: A Declaração dos Direitos Animais (1978); A Declaração sobre o Genoma (1997); A Declaração dos Direitos Indígenas (2007); A Convenção 169 da OIT sobre consulta às comunidades e povos originários, atingidos por megaprojetos extrativistas e de infraestrutura (1989); Convenção sobre Diversidade Biológi- ca (1992); Convenção sobre as Mudanças Climáticas (1992 e 1997 com o Protocolo de Kyoto); Declaração sobre Bioética e Direitos Humanos (2005). 4 Tomamos como referência o título da tese de doutorado de Isabel Carvalho (2002) para de- signar a categoria de “sujeitos ecológicos”. Contudo, buscamos ir além da dimensão subjetiva contida nessa designação, ao associar outras dimensões a esses sujeitos, tais como o sistema de práticas (ecologia das práticas), o processo cognitivo desenvolvido por eles (ecologia de saberes) e o contexto histórico e cultural no qual se constituem como tais, pelo nível de conflituosidade e de possibilidade que têm para construir autonomias socioambientais.

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