Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Produção e constituição de sujeitos ecológicos plurais: experiências com algumas populações... 39 ou imaterial das sociedades humanas, sem o qual não seria possível manter e alimentar as expectativas objetivas e subjetivas de seus agentes e, portanto, do próprio sistema como um todo. Ou seja, o modelo de funcionamento material hegemônico e vigente não se sustentaria se não existissem os meca- nismos culturais que o alimentam, embora contestáveis, como pretendemos indicar ao longo do texto. Vale lembrar ainda que a segunda década do século XXI reinstala e reatualiza a pandemia viral global, já anunciada há cem anos, mas igual- mente de grandes proporções e que se inscreve como signo de negatividade da modernidade, uma vez que a crise ambiental traz como marca o alerta contra as ilusões de um progresso radioso e a instauração do paraíso terrenal sobre os escombros do próprio progresso, ou pelas minas deixadas ao longo do caminho. Trata-se de renunciar de vez ao plano de voo projetado? Quais planos alternativos existem para pousar a nave desgovernada? Será possível retomar o voo novamente após os reparos da avaria? Isso se de fato tivermos tempo para aterrissar antes da catástrofe. O que finalmente fará os seres humanos pararem de uma vez para repensarem seu presente e seu porvir? A última indagação, a respeito da consciência que os seres huma- nos desenvolvem sobre suas intenções e sobre efeitos de suas ações, é um capítulo em aberto que desafia todas as etapas históricas de formação das sociedades humanas. Refere-se também ao grau de precisão e de ilusão, de fabulação produzida sobre o que são, o que fizeram e fazem e o que esperam. São nesses espaços intersticiais e em seus vazios que emergem sua dimensão simbólica, figurativa e a produção de ideologias e crenças apropriadas por variadas linguagens (estética, religiosa, normativa). O que nos interessa explorar no presente texto não é propriamente desvendar essa questão entre o ser e a consciência, nem as diversas formas históricas assumidas sobre esse debate (pela filosofia e pela ciência, principal- mente), tarefa quase impossível de equacionar. Nosso objetivo aqui é bem mais modesto. Assim, é possível tratar dessa questão em pequena escala das ações humanas, por meio da produção de racionalidades que se enfrentam nas experiências materiais e culturais na relação sociedade-natureza, cujo foco aqui proposto privilegia os sistemas de práticas socioambientais de algumas populações tradicionais do centro-sul paranaense, em territórios faxinalenses e de produtores rurais agroecológicos. Em relação aos sistemas de práticas e à ecologia dos saberes dos sujeitos ecológicos, sua constituição deriva de circunstâncias históricas, culturais e políticas. Essas circunstâncias tendem a ser gestadas por longos

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