Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Dimas Floriani e Nicolas Floriani 38 mina as próprias bases da racionalidade instrumental dominantes e aponta para um colapso da reprodução desse modelo. Por sua vez, os mecanismos que sustentam esse modelo são objeto de contestação e de dissenso por diferentes agentes sociais que se colocam de variadas maneiras contra a inércia criada pelo chamado período do an- tropoceno que rompeu o equilíbrio central entre modos e continuidade das condições de vida existentes e os mecanismos implementados para submeter a natureza a esses modos e usos. Pretendemos, com este capítulo, apresentar uma fundamentação teórica, mas também proposições para pensar algumas das alternativas ao desenvolvimento hegemônico em curso, não apenas imaginadas hipoteti- camente pelos intérpretes ou porta-vozes desses diversos atores sociais em presença no cenário dos embates socioambientais, sobretudo encaminhadas pelos seus diversos sistemas de práticas. Para tanto, iniciamos com uma reflexão expositiva crítica sobre a possibilidade de vislumbrar a emergência de sujeitos ecológicos, situados no campo dos atores subalternos ao sistema de produção material (econômica, tecnológica) e imaterial (racionalidade cultural), para em seguida identificar como os atuais impasses civilizacionais podem impulsionar, obstaculizar ou motivar esses sujeitos na construção de autonomias socioambientais. Não temos a pretensão nem a ilusão ingênua de propormos que essas experiências de construção de autonomias socioambientais se sobrepo- nham ou anulem as demais experiências, sejam as que se configuram como hegemônicas e inerciais ao sistema de produção de mercadorias, nem aque- las oriundas de outras experiências alternativas e de contextos diversos aos aqui apresentados. Contudo, elas podem vir a somar e a compartilhar com as demais experiências de construção de alternativas ao desenvolvimento, abrindo assim outras rotas e buscas criativas para sairmos do labirinto e das armadilhas montadas pelo próprio sistema de funcionamento de produção, consumo e apropriação destrutiva da natureza. A propósito das armadilhas montadas pelo sistema dominante, vale a metáfora bélica das tropas que, ao recuarem frente ao inimigo, vão deixando pelo caminho minas que podem explodir caso o inimigo se aventure a ocupar novamente os territórios ou então para retardar o tempo de perseguição. Resta saber se o grau de comprometimento e de destruição da biosfera, dos biomas e ecossistemas são irreversíveis quando as novas propostas forem aplicadas. Mais do que isso, o modo de reprodução material do sistema vigen- te é solidário, em escala global, e coevolui com o modo de existência cultural
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