Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Aloisio Ruscheinsky 32 DOWBOR; PEREIRA, 2020). Essas boas práticas individuais sustentáveis usualmente são consideradas obsoletas, marginais ou folclóricas pelas políti- cas macroestruturais. Ou quando são destacadas por corporações podem ser uma forma de ofuscar outras formas macro de contaminação e degradação 8 . A ênfase da encíclica sobre a ecologia integral talvez não possua como foco primordial a dimensão ambiental ou um esverdeamento do ensino so- cial. “É uma encíclica que anima a esperança. A esperança como motor in- terior que se mobiliza para novos sonhos, novas perspectivas, novas reações” (OCAÑA, 2021). O próprio papa Francisco insiste que reduzir o documen- to a um texto ambientalista seria uma forma de restringir as suas pretensões. É antes uma abordagem socioambiental. Hoje, as vítimas não são apenas indivíduos e grupos, mas continentes inteiros saqueados e jogados na sarjeta da história. Viver uma espiritua- lidade política, como o Papa Francisco incentiva ao longo da encíclica, não é apenas curar os feridos de hoje, mas também envolve trabalhar por uma mudança global na sociedade, lutando contra as causas estru- turais da pobreza, o descarte de pessoas e alimentos, desigualdade, falta de trabalho, abrigo e terra, priorizando a vida de todos sobre o dinheiro e a apropriação dos bens de alguns (OCAÑA, 2021, s/p). Se tratamos de ecologia integral, de fato, podemos partir do pressupos- to de que os humanos são os primeiros a integrar ou fazer parte do âmbito do que denominamos de ecologia. Esta noção de pertencimento, por mais que possa parecer óbvia, de fato não é, em função de muitas circunstâncias e controvérsias, com a negação por meio de práticas sociais. No caso de Gi- ddens, por meio da noção de reflexividade, advém a capacidade de refletir sobre as formas específicas de interação ou os efeitos das ações humanas no ambiente. Entretanto, no contexto da artificialização ou tecnificação das relações interpessoais, diante da velocidade das inovações tecnológicas e da circulação intensa e extensa de mercadorias, parece árduo tratar de uma nova abordagem ecológica ou um aprendizado da diversidade cultural conjun- tamente com a patrimonialização da biodiversidade (LOPES; TOTARO, 2016), que questione as vertentes dominantes ou ensaiem uma harmoniza- ção com os ritmos dos bens ambientais. 8 Caso típico é o caso da Petrobras que ao longo dos anos tem financiado projetos de educação ambiental; ao mesmo tempo mantém uma atividade de exploração de energia fóssil que é ine- rentemente poluidora.

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