Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Aloisio Ruscheinsky 30 consumindo bem mais do que é a capacidade de regeneração e de geração. Razão pela qual a reflexividade suscita a interrogação quanto aos caminhos para uma sociedade sustentável. A ecologia integral leva em consideração a possibilidade do advento de uma cidade sustentável, incluindo aí a comple- xidade das grandes metrópoles. Ora, esta meta impõe prestar contas quanto ao tipo de uso dos bens naturais porquanto a casa comum está em perigo. Em outros termos, a indiferença para com parcela da população empobrecida, bem como com o destino dos bens naturais traz para o cenário de que a bar- bárie pode se projetar inclusive numa sociedade com alto desenvolvimento tecnológico, com muitos meios de dominar os segredos do universo. Por cidades sustentáveis, inteligentes, sadias juntam-se a segurança so- cial e hídrica, por meio da conservação dos mananciais visando também o abastecimento público, a garantia de habitação, cuidar do patrimônio ambiental, conservar áreas com biodiversidade, mobilidade urbana, espaços coletivizados (MALTA, 2017). A ampliação do bem-estar sob a ótica uni- versal da população é inseparável dos cuidados para com o ambiente. Neste sentido, o documento “ecologia integral” propõe uma “meia volta, volver” como premissa fundamental para um pacto socioambiental. Uma das tragédias da sociedade contemporânea é que a questão am- biental se politizou excessivamente entre posicionamentos por vezes exclu- dentes, outras vezes estigmatizados. Entram neste cenário os negacionistas, as teorias da conspiração, os cientistas, os ambientalistas, os catastrofistas. Trata-se da emergência de um debate político na esfera pública no sentido apregoado por Habermas: em outros termos, significaria comprometer-se com um diálogo na diversidade, com um cuidado com o outro, com o ha- bitat ou a cidade sustentável. Em vez disso, por mais que a questão ambiental tenha se projetado a nível internacional, por meio de conferências, documentos, pactos e acor- dos, o dissenso parece em expansão com politização ou dissonâncias políti- cas amplas. Juntam-se, no lado oposto ao cuidado apregoado pela ecologia integral, o antropocentrismo voraz que pretende dominar tudo e o negacio- nismo que nega as evidências aportadas a partir das observações científicas e tende a polarizar as narrativas. Além do mais, há que atentar para a distinção entre retórica e as efetivas práticas sociais. Este último é o caso da extração mineral no Brasil, em especial das grandes mineradoras e seu impacto ambiental, ou o progresso econômico associado à degradação ambiental e humana. Na retórica também endossam uma dimensão da sustentabilidade como uma atitude e um jeito diferente
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