Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Paradoxos nos entrelaçamentos entre o social e o ambiental: a ecologia integral em múltiplas conexões 27 afinal tudo é movimento e inclusive, ao final, o ser humano volta a fecundar a terra. Sendo assim, é possível expressar a “consciência de que não existimos separados do mundo, mas que formamos com todos os elementos da natu- reza uma comunhão amorosa” (SUSIN, 2016, p. 46), de forma inexorável, por mais que sempre, também, seja uma escolha. 3. Autonomia, antropocentrismo e egolatria: consciência e interdependência Os nexos entre homem-natureza podem ser divididos em ciclos: a subordinação do humano como um entre outros; o enunciado da excep- cionalidade; a realização da supremacia conferida em particular por des- dobramentos das ciências na modernidade; e a emergência da criação da natureza pelo homem ou o pós-humano. A ecologia integral advoga uma outra antropologia, uma vez que o curso da modernidade desembocou no antropocentrismo desordenado (LS, 118), ou diante de uma omnipresença do paradigma tecnocrático um novo e urgente descentramento do humano (MARRAS, 2018). O paradoxal apresenta-se pela crítica a uma tipologia de antropocen- trismo, ao mesmo tempo em que avista os riscos do inverso que seria o bio- centrismo. Por meio deste último se eliminaria o compromisso de cuidado com a criação/biodiversidade. O comprometimento em sarar um mundo ferido por meio do cuidado com a casa comum exige reconhecer a alteridade, por meio de capacidades, conhecimento, vontade, liberdade e responsabili- dade (LS, 118). A força do antropocentrismo evidencia de forma peculiar uma crise moral e ética, de forma peculiar diante das mudanças climáticas (PETRA- GLIA; FERNANDES; ARONE, 2020) e dos efeitos perversos do modo de vida sobre a biodiversidade. Esta crise se notabiliza com o advento da Covid-19 e as controvérsias amplamente debatidas ou o paradoxo entre vida social com a circulação de mercadorias e o isolamento social como forma de autoproteção e solidariedade social. O recrudescimento de um carnaval de imoralidade no momento de milhões de contagiados e de centenas de milhares de óbitos se visualiza por falsas notícias, pelo anúncio de medica- mentos milagrosos, pela adesão à teoria da conspiração, pelo alvitre de des- crédito das ciências, pela insanidade de alguns governantes ou empresários, pelo desdém em face das medidas de mitigação.
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