Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Aloisio Ruscheinsky 26 os indesejados. Algo em comum têm estas experiências: proximidade com resultados da generosidade da natureza. Para a sobriedade e a solicitude, a encíclica recomenda nos aproximarmos da natureza e do meio ambiente sem esta abertura para a admiração e o encanto, se deixarmos de falar a língua da fra- ternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do consumidor ou de um mero explo- rador dos recursos naturais, incapaz de pôr um limite aos seus interesses imediatos (LS, 11). Fato político relevante dos tempos em que vivemos são os contrapon- tos paradoxais entre desperdício, opulência ou esbanjamento e, de outro lado, a permanência na penúria e pobreza por multidões. A ostentação de intuitos em prol das desigualdades, somente em parte, decorre da espeta- cularização (abundância e prazer) dos atos relacionados à alimentação em detrimento de outros. Isto não retira a dimensão opressora e excludente da necro-política na medida em que renega a solidariedade, rompendo com a dimensão mediadora de relações com o outro. Igualmente paradoxal é o nexo entre a pretensão de gerar mudanças globais e enfatizar a importância das coisas mínimas, de fazer a sua parte no cotidiano, como reduzir, reutilizar, reciclar, desligar a luz, economizar a água, consumir de forma comedida e colaborar com a coleta seletiva ou subsidiar os catadores. Particularmente cada um a seu modo e pertinência própria maltrata, danifica a biodiversidade do planeta (LS, 8), porque todos, em alguma medida, desfiguramos, consumimos e destruímos os bens natu- rais. Contudo, o compartilhamento da vida não é somente um cenário de privações da vida, de limites ou inimigos à vista, pois as interdependências são nada mais do que os fios de ativa esperança, o futuro compartilhado. O planeta é vida porque flui de forma permanente o poder admirável de se renovar, se expandir, se reciclar e se recriar. A experiência da reciclagem possui, entre seus frutos, a reflexão pessoal e coletiva do que significa a cultura do descarte, contudo ultrapassando o fato como valor econômico. O significado mais profundo situa-se no reco- nhecimento da necessidade de encetar uma dinâmica de conversão do modo de vida. Por isto, há uma contraposição entre o bem-estar social de parte da população, associado à cultura do descarte e do desperdício, e a proposta de outro estilo de vida parcimonioso (LS, 16). O valor mais profundo da reci- clagem atém-se à comunhão com o outro ou na cumplicidade de destino,

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