Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Paradoxos nos entrelaçamentos entre o social e o ambiental: a ecologia integral em múltiplas conexões 25 a pessoa se alimenta, mas também representa a consumação de um outro, pois os seres vivos se alimentam de forma recíproca. Se, de acordo com Feuerbach, “o homem é o que come”, como tam- bém o que veste, o que vê, onde habita, entre outras, isto para outros se apresenta como uma afirmação redutiva, pois para Gramsci os indivíduos são relações sociais. Ou ainda, o que expressa o que alguém é não é o que se propõe de fora para dentro, mas o que o sujeito é capaz de expressar. A experiência ou a explicitação de uma crença religiosa parece insufi- ciente para mudanças visando o cuidado ambiental, porquanto não é mais confiável diante de políticos populistas e pastores que se parecem cada vez mais com mercadores, animadores de auditório ou palhaços. Certamente, não é por falta de experiência religiosa, como transcendência, como con- sumo suntuoso ou sóbrio, que no Estado do Vaticano subsistem espaços e práticas de corrupção, de sonegação da solidariedade, entre outros crimes. Mesmo no final do século XX ou primórdios do XXI, crentes e católicos em diversas partes do planeta pegam em armas para dilacerar os oponentes, como forma de purificação moral na face da terra. Portanto, há um nítido desafio de delinear qual mística se nos parece adequada a gerar os cuidados ensejados pelas encíclicas do papa Francisco. A experiência de um consumo alternativo, que se propõe a superar seja o fausto de poucos, seja a fome de muitos, pode ter como base três dimensões inerentes às reflexões operadas pelo papa Francisco: a origem comum, a recíproca pertença e o futuro com- partilhado. O consumo de líquidos, sólidos e gasosos é um dos fenômenos pelos quais inexoravelmente as pessoas se conectam com a biodiversidade, o que também envolve um processo decisório porquanto pode acenar ao consumo sustentável como um capital cultural (FABRICIO; LEOCÁDIO, 2013; LOPES; TOTARO, 2016). De alguma maneira, “consumir a mesma comida e a mesma bebida significa tornar-se um, juntos, estipular um contrato, uma aliança, reconhe- cer uma proximidade, uma acolhida recíproca, dar origem a uma relação ou aprofundá-la, delinear um esboço de communitas ” (Enzo Bianchi) 4 . De outro, paradoxalmente, vem de longa data em que a organização de banque- tes se tornou, também, uma mesa de encenações, de negociações familiares, comerciais, políticas, quando não de tramoias para afastar da mesma mesa 4 Somos o que comemos e como comemos. Artigo de Enzo Bianchi. Disponível em: http://www. ihu.unisinos.br/78-noticias/549590-somos-o-que-comemos-e-como-comemos-artigo-de-enzo- bianchi.

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