Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Aloisio Ruscheinsky 22 No campo das abordagens ambientalistas há um crescente consenso de que existe uma profunda interface entre o social e o ambiental, pois que também se reconheça que uma dimensão não pode ser reduzida à outra. No caso da denominação de ecologia integral corre-se o risco da generalidade ou parcialidade: se tudo vale em sua significância e abrangência ou é relevante, ao mesmo tempo torna-se tudo como relativo. Também no campo ambien- tal é paradoxal o nexo entre os esforços a nível local e as iniciativas globais e como se elencam as mediações para esta conexão que não é automática. Ao mesmo tempo não cabe confundir a parte e o todo, ou seja, os problemas ambientais como ocorrem no ocidente podem se apresentar de forma diver- gente por mais que se advogue que os riscos socioambientais tendem a ser planetários. Nasce aí uma questão de como os problemas e as soluções locais podem ser extrapoladas para todo o planeta. Uma abordagem a partir da ecologia integral precisa evitar algumas banalidades retóricas, como “a sociedade nunca mais será a mesma depois de ... (tal fenômeno)”. A abordagem aqui pretendida tenderá a se desvenci- lhar do desânimo como uma cultura de denúncia somente que obstaculiza o olhar sobre as alternativas e a generosidade dos outros. O enfoque a partir dos paradoxos será de alguma forma pessimista no diagnóstico ao reconhe- cer os elos perdidos, mas otimista quanto à ação como portas que se abrem para o futuro, embora toda a imprevisibilidade do que se possa vir a enun- ciar. É um aprendizado de lidar com as contradições e os paradoxos de for- ma positiva porquanto constitutivos da realidade social. As contraposições e os conflitos, assim como o lugar social do discurso, afetam profundamente o diálogo, a solidariedade e proposição de alternativas. Todavia, nada nos obriga a elegermos um dos lados, pois que numa perspectiva dialética o real não se reduz a binários. Em termos sociológicos, a sociedade contem- porânea, e mesmo a biodiversidade, se move a partir de contradições, pelos encontros e desencontros, por antagonismos estruturantes dos nexos, reci- procamente implicados. 1. Ciência e tecnologia No documento em análise, do papa Francisco, há o reconhecimento do paradoxo: se de um lado a ciência e a tecnologia são um produto estupen- do da criatividade humana, de outro se trata de reconhecer os efeitos colate- rais, os quais são constitutivos da dimensão política. Neste sentido, está em

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