Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Ecologia Integral na hipermodernidade: a construção do sujeito sustentável em tempos de barbárie 191 são sociais, da igualdade de gênero e raça, da sustentabilidade ambiental, da participação política dos direitos humanos. Segundo Gonçalves (2019), esses são princípios morais e sociais ligados à teoria do Estado de Direito e da Cidadania. Contudo, a autora ressalta que esses princípios de cidadania só poderão ser efetivados por uma coletividade formada de seres humanos de subjetividade integrada, amorosos, criativos, solidários. Este estudo aponta exatamente para uma reavaliação existencial dos modos de vida, da qualidade do consumo, do trabalho produtivo, em uma perspectiva de prosperidade que vai além dos problemas cotidianos de em- prego, salário e equitativa distribuição da renda. A questão da qualidade de vida surge no momento em que as relações interpessoais são marcadas pela indiferença e pelo descompromisso com o outro. O conceito de competiti- vidade e meritocracia substitui a ideia de colaboração, destacando o egoísmo enquanto a ideia de solidariedade entra em desuso. Onde estão, no nosso cotidiano, os valores ligados ao bem-estar comum, à liberdade e ética na construção da subjetividade de um projeto de vida sustentável? O nível de degradação subjetiva pode chegar a tal ponto que os parâmetros entre felici- dade ou sofrimento não mais se encontram separados e discriminados para serem vividos pelos sujeitos, passando a ser confundidos pela banalização dos sentimentos. É possível perceber a solidão entre os jovens de todas as classes sociais, configurada em um vazio existencial que procura ser preenchido por horas a fio diante da tela do celular. A massificação do consumo, a banalização da violência (dentro e fora do ambiente familiar), a concentração da riqueza e a degradação ambiental contribuem grandemente para o empobrecimen- to (material e emocional) das maiorias e para as limitações do Estado em prover os serviços básicos a uma população crescente, marginalizada pelos circuitos de produção e consumo do capitalismo tardio. Essa situação tem gerado uma disfuncionalidade ambiental, social e moral, pois, ao mesmo tempo que o mercado se amplia, gera a uniformi- zação dos bens de consumo que são, muitos deles, produzidos em condi- ções ecológicas e culturais nas quais a canalização de importantes recursos econômicos é priorizada, isto é, tudo para a produção e muito pouco para as políticas sociais. A dimensão cultural é determinante para a noção de qualidade de vida, pois sugere que o processo de produção e de satisfação das necessidades ultrapasse as necessidades materiais. Ela supera a divisão simplista entre a necessidade objetiva e a de caráter subjetivo, assim como também a falsa dicotomia entre fatores biológicos e psicológicos.

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