Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Teresinha Maria Gonçalves, Vanessa Lopes e Bruno da Siva Silveira 188 No livro “The end of Absence” (2014), o jornalista Michel Harris argu- menta que a geração nascida antes de 1985 foi a última a ter experiências de vida e memórias corporais puramente analógicas. A partir desta data, o digital se tornou uma condição imbricada na vida das pessoas desde o nascimento. Ou seja, as pessoas anteriores a 1985 podem ser consideradas como a última geração a viver em um mundo sem internet, sendo que todos que nasceram posteriormente podem ser considerados como nativos digitais. Gorz (2005) aponta para o perigo de máquinas sobre a dominação do pensamento huma- no, citando pesquisas financiadas por grandes corporações e pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Pentágono (EUA) ao localizar que: A ideia de que o ‘esp í rito’ ou a “alma” imortais podem ser descarregados para viverem eternamente no ciberespaço, de que o corpo carnal está se tornando obsoleto e que nós somos como deuses surge na Califórnia (EUA), nos fins dos anos 1970 (GORZ, 2005, p. 90). Sibilia toca assertivamente neste assunto no livro “O show do Eu: a intimidade como espetáculo” (2008), argumentado que máquina de produ- ção e consumo do capitalismo tardio forjam um tipo específico de sujeito, para que o sistema tecnocrático de subjetivação possa ser operacionalizado: Tanto na internet quanto fora dela, hoje a capacidade de criação é siste- maticamente capturada pelos tentáculos do mercado, que atiçam como nunca essas forças vitais e, ao mesmo tempo, não cessam de transfor- má-las em mercadorias. Assim, o seu potencial de invenção costuma ser desativado, pois a criatividade tem se convertido no combustível de luxo do capitalismo contemporâneo: seu ‘protoplasma’ […] (SIBILIA, 2008, p. 10). Dizendo que se trata de: [...] um regime histórico que precisa de certos tipos de sujeitos para alimentar suas engrenagens (e seus circuitos integrados, e suas pratelei- ras e vitrines, e suas redes de relacionamento via web), enquanto repele ativamente outros corpos e subjetividades (SIBILIA, 2008, p. 25). O que podemos perceber é que a configuração deste novo sujeito, ou seja, a concepção de sujeito pós-moderno de Stuart Hall (2014) se difere do sujeito do Iluminismo, cheio de certezas. De acordo com o autor, o sujeito contemporâneo mostra a face de uma subjetividade repleta de vácuos, onde a insegurança, o medo de errar, a falta de amor próprio, as dúvidas, a fal-

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