Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Ecologia Integral na hipermodernidade: a construção do sujeito sustentável em tempos de barbárie 187 De acordo com Lipovetsky e Serroy, a humanidade está configurada como uma cultura-mundo, que diz respeito a uma dinâmica social acelerada e descartável, na maneira em que produzimos e consumimos o mundo. Este período histórico é reconhecido pelos autores como hipermodernidade. So- bre a overdose de informações a que somos submetidos, os autores escrevem: Não é de informação que carecemos – estamos cheios dela -, do que carecemos é dum método para nos orientarmos nessa superabundância indiferenciada, para conseguir uma distância analítica e crítica, que é a única coisa que lhe pode dar sentido. Uma das questões da cultura-mun- do é precisamente esta: como educar os indivíduos e formar espíritos livres num universo de excesso informativo? (LIPOVETSKY, SERROY, 2011, p. 100). Na hipermodernidade, o imperativo econômico se expandiu para todos os setores da sociedade, exercendo grande influência sobre os processos de sub- jetivação. Como consequência, o espaço inventivo da criatividade vai se enfra- quecendo na medida em que vai sendo colonizado por uma lógica mercantil, que prioriza a maximização do lucro dentro de uma perspectiva de crescimen- to infinito. Assim, o pensamento gerencial-administrativo do neoliberalismo passou a interferir diretamente nos processos de individuação em um nível de organização e controle jamais vistos. Por este motivo, o simples fato de reconhecer a dificuldade em humanizar uma sociedade, que mercantiliza suas emoções e pensamentos sem refletir sobre os modos de produção e consumo, já seria um grande passo para alargamos a compreensão sobre a importância da relação humano-natureza na preservação da vida. Falamos de uma tomada de consciência para que os dilemas de nosso tempo possam ser enfrentados. 1.2 Da inteligência artificial à vida artificial A relação humana, com o advento da tecnologia nas últimas décadas, pode ser entendida como um processo mútuo de objetificação do sujeito e de subjetificação do objeto. Não é à toa que, cada vez mais, vemos máquinas sendo programadas para desempenhar funções humanizadas e pessoas sendo robotizadas na tomada de decisão e escolhas. No entanto, é provável que ain- da demore muito tempo para que a inteligência artificial das máquinas possa ser equiparada à complexidade do aparato sensório-motor do corpo huma- no. Máquinas até podem se comunicar, como é o caso da M2M ( machine to machine ) da IOT ( internet of things ), mas dificilmente terão em seu horizonte a premissa da qualidade distintiva que forma a consciência.

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