Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Teresinha Maria Gonçalves, Vanessa Lopes e Bruno da Siva Silveira 186 1.1 Tecnologia, mercantilização da vida e modos de subjetivação O reconhecimento de que a natureza tem valores intrínsecos que nos levam a refletir sobre a vida faz parte da construção do sujeito na sociedade contemporânea, seja consciente ou inconscientemente. Com o advento da tecnologia, a bússola que tem pautado os modos de vida aponta para a ob- jetificação de um sujeito cada vez mais robotizado e virtualizado, enredado por relações efêmeras e fúteis cultivadas nas redes sociais, num processo de captura tecnicamente conduzido para manipular escolhas de consumo. Dentro dos modelos de comunicação em ambientes virtuais, a cibercul- tura traz consigo uma evocação para o futuro. Sonhos e pesadelos também são comumente associados ao desenvolvimento tecnológico. Na visão de Lemos e Levy (2010, p. 21), a cibercultura seria um conjunto tecnocultural emergente no séc. XX, que tem sido amplamente desenvolvida desde a virada do milênio. Com o surgimento da internet, na década de 90, testemunhamos a esperança da democratização da informação se transformar em um pesadelo para a or- dem democrática. De acordo com os autores citados, o mundo ciber não traz apenas sonhos, mas também pesadelos, destacando exatamente os danos da dominação técnica da natureza e da subjetividade. Segundo Lopes: A internet surgiu como uma promessa para a democratização da comu- nicação. As redes sociais criaram um novo ecossistema em que milhares de pessoas são capazes de manipular e compartilhar informação para milhares de pessoas. O problema é que ninguém imaginou que esta overdose de informações traria solidão, falta de tempo e agonia para as pessoas em sua vida analógica (LOPES, 2015, p. 39). Além disso, para tratar da relação homem-natureza, é necessário pro- blematizar a questão da mercantilização da subjetividade, um assunto que tem sido amplamente discutido desde a virada do milênio em diversas áreas do conhecimento. Trata-se da captura do imaginário, através de dispositivos de indução de desejo para o consumo, orquestrada por mecanismos de con- trole em Big Data vinculados a serviços digitais de grandes corporações que, nos últimos anos, tomaram conta de uma grande fatia do mercado capital. Podemos dizer que empresas como Google, Facebook e Amazon tornaram a subjetividade uma commodity lucrativa, dentro de um sistema alienante e ineficaz em termos de crítica social. Assim, em um curto período de tempo, os valores humanistas herdados do Iluminismo, que até então sustentavam as tramas do tecido social, foram rapidamente ocupados pelo hedonismo individualista do capitalismo artista (LIPOVETSKY, SERROY, 2015).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz