Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Ecologia Integral na hipermodernidade: a construção do sujeito sustentável em tempos de barbárie 185 A sensaço mais precisa e mais aguda, para quem vive neste mo- mento, e nao saber onde esta pisando a cada dia. O terreno e fragil, as linhas se dividem, os tecidos esgarcam, as perspectivas oscilam. Entao se percebe com maior clareza que estamos no ‘inominavel atual’ (CA- LASSO, 2020, p. 5). O autor também cita o filósofo alemão Max Stirner, ao falar sobre o protótipo moderno do bárbaro artificial que, fundamentado em sua cau- sa sobre o vazio, enclausura-se em si mesmo. Assim, o indivíduo civili- zado contemporâneo volta ao seu estado mais selvagem, ou seja, isolado em sua individualidade egoísta. Este novo ‘eu’, fruto do inominável atual, acaba por romper o invólucro protetor da Cultura e introduz sua existência em um mundo marcado pela “irreversível perda de dignidade do todo ” (MATTÉI, 2002, p. 161). A fragmentação do sujeito moderno levou-nos a uma “apatia frívola”, a uma “dessubstancialização” de uma subjetividade sem sentido, que pode ser vista como um retorno ao “grau zero do social” (MATTÉI, 2002 p. 163). A perda da perspectiva do coletivo no qual se funda o sujeito civiliza- do abriu espaço para um “recolhimento confortável de nosso gueto íntimo” (MATTÉI, 2002 p. 163). Neste contexto, não estaríamos mais em uma perspectiva do sujeito sociológico de Stuart Hall (2014), mas do sujeito fragmentado “devastado e aniquilado” (MATTÉI, 2002 p. 163), ou seja, trata-se de uma cosmovisão orientada por uma perspectiva individualista em que se busca a satisfação imediata e a mediatização de desejos descartá- veis à custa de likes . Este processo de subjetivação se dá no momento em que torna- mo-nos sujeitos no inominável atual, passando inevitavelmente pela in- teração constante do homem com o mundo, com outras subjetividades (HABERMAS, 1990) e com a internalização dos valores da sociedade na qual está inserido, ou seja, na maneira em que o sujeito se relaciona consi- go mesmo, com os outros e com o ambiente em que vive. Porém, há uma solidão psíquica nas condições adversas e hostis em que a subjetividade é produzida na sociedade contemporânea. As questões emergentes desta discussão foram levantadas por Mattéi (2002) ao falar do sujeito vazio, por Damergian (2001), que traz a fragmentação da subjetividade e por Sennett (1994), quando trata da anestesia social relacionada à insensibi- lidade das pessoas perante o coletivo, em grande parte pela incapacidade de enxergar o outro.
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