Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Teresinha Maria Gonçalves, Vanessa Lopes e Bruno da Siva Silveira 184 sos de significação em direção a um outro mundo possível fruto da relação humanos-natureza. 1. Quando o inominável atual flerta com a barbárie Não são poucos os enfrentamentos herdados de nosso processo civili- zatório e que precisam ser urgentemente tratados para que possamos voltar a vislumbrar um horizonte comum para humanos e não humanos. De acordo com Guattari, “não haverá verdadeira resposta à crise ecológica a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais” (1990, p. 9). Entendemos que é preciso restabelecer o prumo da civilidade para o bem-estar comum; caso contrário, as forças hegemônicas de poder conti- nuarão traçando um futuro insustentável para as próximas gerações. Se a humanidade falhar em cuidar de sua autopreservação, a barbárie tende a se tornar o tom predominante na resolução de conflitos. Afinal, foi através da força e da violência que o colonialismo foi se afirmando e se consolidando ao longo da história, através da dominação e do silenciamento de corpos vulneráveis. A representação social da barbárie decorre da percepção do sujeito em relação à sua vida em sociedade. Mattéi (2002) enfatiza que no {o} nosso mundo interno hospeda a barbárie, dando pouso para uma cosmovisão la- tente, que a qualquer momento pode ser reativada. Pois é exatamente o que estamos vendo acontecer agora, através da disseminação sem precedentes de fakenews inflamadas por discursos de ódio, negacionismo e teorias cons- piratórias. Se a barbárie é também uma característica humana, a saída para esta condição se dá a partir de uma tomada de consciência fundamentada pelo sentimento de alteridade. Do contrário, permaneceremos de costas na caverna de Platão assistindo de camarote uma versão deturpada de nossa própria autodestruição. Para Mattéi, o escritor italiano Roberto Calasso tem em sua obra a crítica mais sutil em se tratando da subjetividade exacerbada de nossa época. De fato, sua literatura relata com precisão nossa caminhada para um futuro inconsistente, num mundo marcado pela violência de conflitos identitários. Em “O inominável atual” (2020), seu ensaio mais recente publicado no Brasil, Calasso descreve o momento que vivemos da seguinte forma:

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