Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Ecologia Integral na hipermodernidade: a construção do sujeito sustentável em tempos de barbárie 183 do produz {gera ou causa} um processo de ressignificação emblemático em função de consequências trazidas por traumas coletivos. Isso explica porque catástrofes são reconhecidas como catalisadoras de processos históricos, pois são capazes de promover cortes abruptos nos modos de vida em uma escala ao mesmo tempo micro e macro. Portanto, já é dado por certo que os pro- cessos de subjetivação em curso não sairão ilesos da Pandemia da Covid-19. Um outro ponto importante diz respeito aos constantes atentados às instituições por meio de mídias digitais orquestrados por grupos de extre- ma direita que compõem a atual onda neofascista no Brasil e no mundo . No Brasil, basta lembrar dos ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional nos últimos anos. Aos poucos vamos deixando de ficar perplexos com os absurdos no dia a dia e acabamos normatizando uma con- dição de barbárie.. Até chegarmos à tentativa de golpe nos Estados Unidos na última semana com a invasão do Capitólio, a casa da Democracia nor- te-americana, por apoiadores insuflados pelo discurso de ódio do ex-pre- sidente Donald Trump, ao mesmo tempo que testemunhamos dezenas de pessoas morrendo asfixiadas no estado do Amazonas, por falta de oxigênio, em decorrência de políticas públicas que dialogam com o que o filósofo camaronês Achille Mbembe (2018) conceituou como necropolítica. Eis a nossa barbárie contemporânea. O dilema do Antropoceno (CRUTZEN; STOERMER, 2000) está posto. Os sintomas da também chamada de era dos homens já podem ser percebidos, configurando uma nova condição existencial que não pode mais ser ignorada, tampouco revertida. Fruto da ação direta do homem, a atual era geológica do planeta é marcada por relações de dominação e subserviên- cia que separam o homem da natureza, desencadeando modos de vida que reverberam através de um cenário sociocultural autodestrutivo, naquilo que é descrito por Isabelle Stengers (2015) como “o tempo das catástrofes”. Estamos diante da grande questão que o Antropoceno nos impõe, de conseguir superar a era dos homens preservando o bem viver. Não se trata apenas de sobreviver aos desastres naturais que estão a caminho, mas de conseguir imaginar desde já como seria viver uma vida qualificada. Diante dos impactos do agenciamento material predatório – extração, produção, consumo e descarte – da sociedade de consumo contemporânea, encon- tramos uma possibilidade de reação proveniente da habilidade metamór- fica e inventiva dos processos de subjetivação, justamente pela capacidade imaginativa de transbordar enquadramentos e desencadear novos proces-

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